Tarso Genro é empossado e traz de volta o PT ao Piratini
Rachel Duarte
“Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis e patrocinar o bem comum do povo rio-grandense”. A frase do compromisso constitucional foi a primeira proferida oficialmente por Tarso Genro neste sábado, 1º de janeiro de 2011, como novo governador do Rio Grande do Sul. O governador eleito em primeiro turno foi empossado na Assembleia Legislativa gaúcha por volta das 8h40min, 10 minutos depois do previsto para o início da sessão.
A chegada à casa do povo ocorreu pontualmente às 8h15; o presidente da Assembleia Giovani Cherini já o aguardava. Com o tradicional assédio de fotógrafos e uma legião de seguranças e assessores, Tarso se dirigiu ao gabinete da presidência. Lá aguardou até a hora de entrar no Plenário 20 de Setembro para a sessão de posse.
O plenário não estava com lotação máxima, mas um bom público escolheu começar o ano assistindo a posse do novo governador gaúcho. Familiares e autoridades sentaram na ala esquerda. Nas galerias ficaram os militantes e algumas entidades ligadas a movimentos sociais, que se encarregaram dos calorosos aplausos na entrada de Tarso Genro na sessão. As bancadas foram ocupadas pelos integrantes do novo governo e alguns deputados.
O deputado Pedro Westphalen (PP), primeiro-secretário da Mesa Diretora, procedeu à leitura do Termo de Posse. O mesmo procedimento aconteceu com o vice-governador Beto Grill.
O presidente da casa, Giovani Cherini, foi o primeiro a discursar e disse que Tarso assume o governo num momento ímpar, com os governos estadual e federal intrinsecamente ligados, “possibilitando a concretização de um novo tempo”. Cherini ressaltou também que as propostas do novo governador foram bem recebidas pelos deputados e aprovadas, sem dispensar elogios ao novo comandante do estado. “Duvido que, neste Estado, alguém conteste a sua competência ou não respeite a sua determinação e coragem. Acredito que a coragem, a cooperação e o senso político contribuíram para que vossa excelência chegasse até aqui”, disse ao novo chefe do Executivo estadual.
Em seu discurso, Tarso falou de improviso sobre o respeito que terá com os partidos políticos que compõem o parlamento e disse que acredita na importância do diálogo entre as siglas. “Quero aqui manifestar meu integral respeito aos partidos políticos que compõem essa Casa. Creio que teremos assuntos de interesse comum para dialogar e encontrar as melhores saídas”, afirmou.
Tarso também salientou o discurso feito pelo presidente do Parlamento, deputado Giovani Cherini (PDT), sobre cooperação, e anunciou que recordou uma promessa feita ainda durante a campanha: o pacto federativo. “Vamos fazer um pacto com os poderes, a exemplo do que foi realizado no governo federal. Tenho convicção de que o Estado do Rio Grande do Sul está maduro para dar um salto afirmativo na sua cultura política. Podemos aqui no Rio Grande do Sul, sem perder as nossas identidades programáticas e a nossa personalidade política, criar um exemplo para o País”, ressaltou.
A sessão solene foi encerrada com a interpretação do Hino Rio-Grandense pelo tenor Eduardo Bighelini, acompanhado pelo tecladista Rodrigo Cattani. Às 9h30min, o governador e o vice-governador Beto Grill (PSB) seguiram para o Palácio Piratini, para a cerimônia de transmissão de cargo.
De oposição para situação
11 anos depois, a soberania do povo gaúcho decide entregar o comando do estado a um novo integrante do Partido dos Trabalhadores. O dia 1º de janeiro de 2011 ficou marcado pela troca de dois modelos antagônicos de governo. A atual governadora Yeda Crusius (PSDB) entregou o cargo para Tarso Genro. O ato, registrado em ata às 10 horas, foi testemunhado por autoridades dos dois governos.
O Salão Negrinho do Pastoreio estava lotado por autoridades e imprensa. Sentados em uma mesa na qual estava ainda o presidente da Assembleia, Giovani Cherini (PDT), e o vice-governador Beto Grill, Tarso e Yeda assinaram, o termo de transferência de cargo. Neste momento foi anunciada execução do Toque da Vitória pela banda da Brigada Militar.
Em seguida, foi executado o Hino Nacional, que rendeu expressões curiosas das autoridades. Tarso permaneceu calado como sempre o faz durante os hinos. Já Yeda cantava com entusiasmo e dividia a alegria de cantar e enaltacer o país olhando para o presidente do legislativo gaúcho Giovani Cherini, o qual escondia o constrangimento com um sorriso amarelo.
Em seu discurso, Yeda destacou a história do Palácio do Piratini e a reforma realizada no prédio, em 2009. A ex-governadora fez questão de defender seus quatro anos frente ao governo do Estado, dizendo tratar-se de um governo de gestão transparente e dentro da legalidade. Entre outros feitos, Yeda fez questão de salientar o Programa de Prevenção à Violência (PPV) e a construção da penitenciária feminina em Guaíba, referindo-se a Tarso sempre como o “nosso governador” ou “agora governador”.
Tarso, por sua vez, começou agradecendo a abertura de diálogo proposta pela governadora e desejou-lhe felicidade e paz. O governador também voltou a saudar os antigos chefes do Executivo Alceu Collares e Olívio Dutra, chamando o companheiro de partido de “mestre político”.
“A minha saudação aos partidos da Unidade Popular pelo Rio Grande e aos meus queridos companheiros do Partido dos Trabalhadores, partido que eu integro há muitos anos e com o qual tenho um compromisso de vida histórico”, disse Tarso no início do seu discurso no Palácio Piratini.
Tarso reconheceu o esforço coletivo que resultou na sua vitória inédita em primeiro turno e reforçou seu compromisso com o projeto de todos os partidos que o elegeram. “A vitória eleitoral que nos trouxe aqui é de um projeto político representado pelo PT e os partidos que compõem a nossa frente política. Uma campanha sem qualquer agressão pessoal e com muita luta nos conduziu a vitória no primeiro turno. Não sou um vencedor solitário. Faço parte de uma rede que tem compromisso com o RS”, disse.
O governador citou os exemplos do escritor Erico Verissimo e do sociólogo Raymundo Faoro, ambos gaúchos, pela forma com que o primeiro apresentou o Rio Grande seu significado em sua literatura e a forma pela qual Faoro, por outro lado, criticou o patrimonialismo do Estado e das elites brasileiras.
O petista citou ainda o exemplo do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela na luta pela liberdade e disse que só a exposição pública de conflitos “pode promover uma sociedade justa”, momento em que foi aplaudido com entusiamo.
Tarso estimulou a imprensa a indicar eventuais improbidades administrativas em seu governo e finalizou: “Muito obrigada ao povo gaúcho. Viva o Rio Grande, viva o Brasil”, sendo aplaudido de pé.
Yeda e Tarso desceram juntos parte das escadarias do palácio, onde se abraçaram. Yeda deixou o Piratini e Tarso retornou ao salão Negrinho do Pastoreio, onde os secretários do novo governo tomaram posse. Por último, Tarso foi até uma das sacadas do palácio, onde discursou para o público que acompanhava a cerimônia na Praça da Matriz.
Por Sul21
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