sexta-feira, 27 de março de 2015

Rússia e China criam mecanismos de des-dolarização

China Completa o novo sistema SWIFT (*) Alternativo: "Eixo da des-dolarização" pode ser lançado em setembro

Por Tyler Durden

Uma das ameaças recorrentemente repetidas pelas nações do ocidente em sua guerra (cada dia menos fria) contra a Rússia, é que o regime de Putin pode ser paralisado se for desligado de todas as transações monetárias internacionais e serviços prestados pelo serviço de distribuição de mensagens-moeda e câmbio que tem base na União Europeia conhecido como SWIFT (desligamento que, vale relembrar, a SWIFT lamentou, como se revelou em outubro, quando foi noticiado que a organização “lamenta a pressão” para desconectar a Rússia).

Claro, depois que se soube, revelado em 2013, que ninguém menos que a Agência de Segurança Nacional dos EUA ‘monitora’ secretamente os fluxos de pagamento feitos pela SWIFT, já ninguém pode ter certeza de que ‘ser desligado’ da SWIFT seria castigo ou prêmio. Seja como for, a Rússia não precisou de muitos avisos, e, como noticiamos há menos de um mês, o país já lançou sua própria ‘SWIFT-alternativa, conectando, para começar, 91instituições de crédito.

Essa notícia, por sua vez, sugeriu que a des-dolarização está muito mais avançada do que muitos esperavam, o que, combinado com a venda recorde, pela Rússia de TSYs, mostra o quanto Putin está levando a sério a ameaça de ser isolado do sistema ocidental de pagamentos. Seria perfeitamente lógico e esperável que, sem tardar, Putin apareceria com seu próprio sistema.

Há duas implicações bem claras desse uso do dinheiro como meio para fazer guerra clandestina: (i) a menos que outros países acompanhem a saída da Rússia da SWIFT, a ação de criar mecanismo alternativo será honrada e valente, mas dará em nada; afinal, se todo o resto do mundo continuar a usar o sistema SWIFT como padrão, nenhum sistema alternativo que a Rússia invente para processar pagamentos estrangeiros terá qualquer importância; e (ii) se o exemplo da Rússia, de sair de um sistema mediado pelo ocidente para pagamentos internacionais for bem-sucedido e copiado, o movimento russo acelerará o esvaziamento do status do dólar como moeda de reserva – que o dólar é, por definição, porque não há outra moeda de reserva. Se aparecerem alternativas, todo o sistema de reserva começa a ruir.

Hoje já há provas de que a implicação “ii” muito provavelmente prevalecerá, depois de matéria distribuída pela Reuters, de Pequim, que dá notícia de que o sistema de pagamentos internacional da China, conhecido bem simplesmente como China International Payment System (CIPS), que processa transações em yuan transfronteiras, está pronto e pode entrar em plena operação já em setembro ou outubro.

Segundo a Reuters, o lançamento do CIPS removerá uma das maiores barreiras à internacionalização do yuan e deve aumentar muito o uso global da moeda chinesa, fazendo baixar os custos de transação e os tempos de processamento.

O sistema porá o yuan em pés de melhor igualdade com outras grandes moedas globais como o dólar norte-americano, uma vez que a CIPS usará o mesmo formato de messaging de outros sistemas internacionais de pagamentos, tornando mais fáceis e rápidas as transações.

O CIPS, que será uma supertrilha mundial para pagamentos para o yuan, substituirá a colcha de retalhos de redes hoje existente, que torna muito pesado e difícil o processamento de pagamentos com renminbi.

Em outras palavras: enquanto o ocidente usa cada provocação que envolva a guerra civil na Ucrânia como oportunidade para pressionar a Rússia a criar seu próprio sistema de pagamento transfronteiras, ele já conseguiu não só que a Rússia faça precisamente isso, mas, mais que isso, o ocidente também empurrou a China para que acelerasse o serviço de criar e implantar seu próprio sistema para pagamentos internacionais. Nesse processo, Rússia e China aproveitam para ‘avisar’ ao planeta que o dólar norte-americano é substituível como moeda de reserva. Assim, dão a outros países (aos BRICS, por exemplo), luz verde para pensarem na SWIFT apenas como alternativa, depois dos sistemas de pagamento (a) russo e (b) chinês, coisa que, com o estímulo político e financeiro adequado, aqueles países gostarão muito, muito, de fazer).

Mas o mais perturbador é o quão rapidamente está chegando a mudança de regime operada pelos chineses:

"Tudo saindo conforme o previsto, [o lançamento] acontecerá em setembro ou outubro. Se for preciso tempo um pouco mais longo, mesmo assim ainda esperamos que tudo estará em operação antes do final do ano” disse a fonte, que pediu para não ser identificada porque não tem autorização para falar com a imprensa-empresa.

Esperava-se que o sistema tivesse sido lançado em 2014, mas o lançamento foi adiado por problemas técnicos, com muitos participantes do mercado já prevendo que não entraria em operação antes de 2016.

Desnecessário dizer o quanto a China gostará de ter seu próprio sistema unificado de pagamentos, o sistema que internacionalizará ainda mais o renminbi, moeda a qual, em novembro de 2014, já se convertera em uma das cincoprincipais moedas de pagamento, deslocando os dólares canadense e australiano, segundo dados da SWIFT.

Até agora, o câmbio transfronteira de yuan tinha de ser feito ou num dos bancos offshore de compensação de yuan em Hong Kong, Cingapura e Londres, ou com a ajuda de um banco intermediário em território da China.

“Com muita frequência ocorrem erros sob o atual sistema de compensações, por causa de diferenças de linguagens e de codificação. O CIPS é uma abertura importante, porque oferecerá plataforma comum e aumentará a eficiência” disse Raymond Yeung, analista da ANZ em Hong Kong.

O lançamento do CIPS permitirá que empresas fora da China façam negócios em yuan diretamente com seus contrapartes chineses, reduzindo o número de etapas pelos quais tinha de passar cada pagamento.

Também tornará muito mais difícil para a Agência de Segurança Nacional dos EUA ‘rastrear’ pagamentos que entram e saem da China, do que hoje, quando se usam intermediários cheios de furos, como a SWIFT.

Eis como o Mercator Institute for China Studies antecipou esse grande desenvolvimento:

O governo chinês caminha a passos largos para uma internacionalização controlada da moeda chinesa, mediante uma expansão passo a passo do uso do RMB no comércio internacional e investimento chineses. Para tal finalidade, foi construída uma rede mundial de acordos relacionados a swaps de moeda do Banco Central, câmbio direto do RMB com outras moedas e câmaras de compensação em RMB.

O estabelecimento de um sistema independente de pagamentos (CIPS) para transações em RMB e sistema alternativo ao existente, SWIFT, com certeza ampliará a autonomia da China em relação a estruturas do mercado financeiro centradas nos EUA.

Por fim, a maior facilidade nas transações em termos não-USdólar acelerará a adoção do yuan chinês como moeda primária do comércio global, ou do pouco que reste dele, oposta à moeda da engenharia financeira.

Os pagamentos em yuan globais aumentaram 20,3% em valor, em dezembro, na comparação com o mesmo período do ano passado; e o crescimento para pagamentos em todas as demais moedas foi de 14,9% no mesmo período – informou a SWIFT.

China acelerou o passo da internacionalização do yuan em anos recentes. O banco central credenciou 10 bancos para compensação oficial do yuan ano passado, elevando o número total para 14 bancos, globalmente, que podem realizar transações em yuan com a China.

A última observação a registrar aqui é que, se o objetivo planejado na brilhante operação urdida pelo governo Obama para expulsar a Rússia – e, por filiação geopolítica, também a China – para bem longe de um mecanismo de transação monetária que os EUA controlavam e supervisionavam; e para obrigar os dois mais fortes concorrentes que se opõem aos EUA na disputa pela hegemonia global a construírem, eles mesmos, o seu (deles!) próprio sistema de pagamentos... nesse caso... PARABÉNS! A ‘operação’ deu certo!


(*) Society for the Worldwide Interbank Financial Telecommunication (Sociedade para Telecomunicações Mundiais Interbancárias e Financeiras[1]) 

[1] Fundada em Bruxelas em 1973, a Sociedade para Telecomunicações Mundiais Interbancárias e Financeiras (Society for the Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT) é uma organização cooperativa dedicada a promover o desenvolvimento de interatividade global padronizada para transações financeiras. Originalmente, a SWIFT tinha a seu cargo estabelecer um link de comunicações globais para processamento de dados e uma linguagem computacional comum para transações financeiras internacionais. A sociedade opera um serviço de messaging para mensagens financeiras, como cartas de crédito, pagamentos, transações protegidas, entre bancos membros em todo o mundo. A função essencial da SWIFT é distribuir essas mensagens de forma rápida e segura, duas exigências básicas em transações de natureza financeira. Organizações membros criam mensagens formatadas que são passadas adiante para a SWIFT para serem entregues à organização membro destinatária. A SWIFT opera em escritórios instalados em Bruxelas, e processa dados de centros de dados instalados na Bélgica e nos EUA (NTs, com informações dehttp://www.swift.com/index.page?lang=en).

9/3/2015, Tyler Durden, Zero Hedge

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

sexta-feira, 20 de março de 2015

Grande Liquidação! Brasil vira Casas Bahia!

Dólar Levy caro compra Petrobras de graça!

Conselho Editorial Sul-Americano


O JOGO DOS GOLPISTAS É PARAR O BRASIL PORQUE SE O GIGANTE AVANÇAR INCOMODA OS CONCORRENTES. Baratear o Brasil e sua maior empresa a Petrobras jogando suas ações no chão para serem adquiridas por dólar sobrevalorizado artificialmente pela política monetária americana expansionista tocada a juro zero ou negativo eis a jogada imperialista que os golpistas praticam para desestabilizar a economia brasileira e a sulamericana, detentora, atualmente, das maiores reservas de petróleo do mundo. Venezuela e Brasil, no pre sal e na bacia do Orinoco, possuem 500 bilhões de barris de óleo. A Arábia Saudita perde longe. Não é à toa que as sete irmãs jogam pesado contra o governo brasileiro e o governo venezuelano, para permitirem a participação ampla e irrestrita de investidores internacionais na exploração da maior riqueza continental. As desestabilizações políticas, levadas adiante por golpistas oposicionistas e financistas, aliados, têm por trás interesses poderosos. O que falta no Brasil nesse instante é uma imprensa corajosa que precisa ser criada urgentemente para informar corretamente à população sobre as mentiras que a grande imprensa espalha de que o governo é incompetente, sem dar conta de que as manobras externas, monetárias e cambiais desajustam a economia e toda a estrutura produtiva, servindo para comprar a opinião dos eternos vendilhões da pátria e suas armas para sustentar a colonização econômica sobre as riquezas nacionais. O nacionalismo econômico que lançou suas bases nos últimos doze anos no país mediante políticas distributivas de renda está sob grande ataque. Ele não interessa às forças externas, porque acelera conscientização social para defender o país dos seus eternos abutres. Somente essa conscientização política, alavancada pela participação popular, será capaz de evitar o sucateamento industrial e a liquidação a preço vil do patrimônio nacional.
O diabo – ou seja, as forças externas, o Império – é sábio, como dizia Brizola, porque é velho.
Já viveu todas as vidas, sabe tudo e pode, quase, tudo.
Primeiro, desvalorizaram as ações da Petrobras.
Segundo, valorizaram o dólar.
Dois movimentos simultâneos, duas manobras para baratear o preço Brasil, de um lado, e encarecer o custo Brasil, de outro.
Quem tem dólar, no ambiente desse movimento realizado pelo império americano, ao longo dos últimos dois anos, pode chegar na liquidação geral dos ativos brasileiros – e emergentes em geral - e levar tudo.
Armínio Fraga e seu fundo Gávea, sócios de George Soros, aplicadores nos paraísos fiscais, estão deitando e rolando.
O jogo do câmbio é sempre uma armadilha do mais forte para tomar do mais fraco.
Por que o governo Dilma Rousseff, que está cheio de dólares, sobrevalorizados pelas manobras imperialistas dos últimos tempos, não usa essa reserva para comprar as ações da Petrobras?
Por que ficar com quase 400 bilhões de dólares entesourados, deixando a estatal entrar em parafuso?
Vai deixar acontecer com ela o que aconteceu com Eike Batista?
Por que não faz como fez Putim: comprou ações de estatais russas do petróleo quando o preço delas caíram por força das especulações internacionais?
Se fizer isso, agora, já, resgata a empresa das mãos e das manobras dos abutres e, rapidamente, terá o dinheiro de volta, duplicado, triplicado ou, quem sabe, quadruplicado, enchendo as burras do tesouro nacional.
O pré sal, segundo estimativas mantidas em segredo, possui reservas próximas de 200 bilhões de barris de petróleo
Somadas às da bacia do Orinoco, na Venezuela, na casa dos 250 bilhões bilhões de barris, tem-se, na América do Sul, cerca 500 bilhões de barris.
Muitas vezes superiores às reservas da Arábia Saudita, dominada pelas sete irmãs americanas, que estão de olho por aqui
Os golpes políticos que se tentam no Brasil e na Venezuela, nesse instante, para derrubarem Dilma e Maduro, têm explicações fartas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

EUA PROMOVEM DESESTABILIZAÇÃO DE DEMOCRACIAS NA AMÉRICA LATINA

“EUA PROMOVEM DESESTABILIZAÇÃO DE DEMOCRACIAS NA AMÉRICA LATINA”, DENUNCIA MONIZ BANDEIRA



O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou hoje (17/03/15) que os Estados Unidos,  por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONG´s a eles vinculadas,  continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda e progressistas da América Latina,  como os da Venezuela, Argentina e Brasil. Em entrevista ao  PT na Câmara, por e-mail, Moniz Bandeira  disse que ‘’evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas”, para desestabilizar esses países, com a utilização de instrumentos que incluem protestos de rua.

‘’As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, não foram evidentemente espontâneas”, disse o cientista político. “ Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados’’, disse Moniz Bandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA.

No caso do Brasil especificamente,  citou iniciativas do PT e aliados que contrariam Washington, como a criação do Banco do Brics , uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial e o regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, descocando as petroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSA e não se alinhou com os EUA  em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.

Eis a entrevista:




1)O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina . Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?

R – Washington há muito tempo está a criar ONGs com o fito de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundation (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção dosenador John McCain, etc. Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos EUA. Assim o fizeram nos países da Eurásia, onde de 1989 ao ano 2000 foram criadas mais de 500.000, a maioria das quais na Ucrânia.
Outras foram organizadas no Oriente Médio para fazer a Primavera Árabe.

A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim de agravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares. Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos EUA, então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, estavam a preparar, desde pelo menos 2012, especialistas, profissionais em guerra de informaçãoe descrédito das instituições do Estado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensa escrita e falada, TVs e sites na Internet – para a manipulação da opinião pública, e organização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país e derrubar o presidente Viktor Yanukovych as demonstrações contra o presidente Yanukovych, em fevereiro de 2014.

Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political defiance, i. e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar  um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos). Essa estratégia pautou em larga medida a política de regime change, a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou a pesquisar e escrever outra obra – A desordem mundial – onde aprofundo o estudo o que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.



2)Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina.

R – Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os EUA, é mais perigosa quando está a perder a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a II Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está a ser desafiado pela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc. Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões – caça dos EUA, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.


3) O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em  tentativas de golpe.  O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?

R – Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos. O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados. 


4) Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?

R – Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a Operação Lava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, sem que documentos comprobatórios aparecessem. O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. (…) Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.



5) Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?

R – Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa. E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos  EUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.


6) Há, entre os organizadores dos protestos, gente fracamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira?De novo o nacionalismo versus entreguismo?

R – Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las. Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA  patrocinam.

Carta Maior - Política

terça-feira, 17 de março de 2015

O Dia Que Durou 21 Anos

O documentário "O Dia Que Durou 21 Anos" expõe a contribuição americana para destituir em 1964 um inimigo do capital

Assista o documentário: https://www.youtube.com/watch?v=pJKAfm9PNBU 


por Orlando Margarido
na Carta Capital

O silêncio estratégico aconselhado por Lincoln Gordon provou-se premonitório. O ex-embaixador americano no Brasil pretendia desse modo apenas imiscuir-se na violação aos direitos humanos ocorrida no País a partir do golpe de 1964. Seu pensamento atravessou mais de duas décadas, quando a abertura veio romper o contexto de vozes caladas a partir de 1985. Desde então, o cinema documental tem sido um dos espaços reveladores e de discussão sobre a ditadura. Henning Boilesen, Carlos Marighella e em breve Iara Iavelberg são personagens das duas forças em jogo em função também de cuidadosos estudos na tela. Agora é a vez de Gordon, os chefes da Casa Branca e o influente aparato dos EUA ter a participação detalhada no retrocesso histórico brasileiro.

O Dia Que Durou 21 Anos expõe a participação dos Estados Unidos no golpe de Estado e a ascensão dos militares, além de algo mais. A possibilidade de ingerência americana foi por muito tempo tida como paranoia da esquerda. O filme de Camilo Tavares comprova com minuciosa documentação, imagens inquietantes e áudios surpreendentes que os militantes contra a política instalada estavam certos. Encontram-se lá registrados os telegramas trocados entre o diplomata e o presidente John Fitzgerald Kennedy e seu sucessor Lyndon Johnson. Entre os de calibre, aquele do Departamento de Estado que descreve a Gordon o início da Operação Brother Sam, ou seja, a etapa final na derrubada do mandatário João Goulart, recém-eleito pelo voto popular.

Conhecíamos a partir de documentários nacionais bem fornidos como Jango, de Silvio Tendler, a complexa tarefa posta em prática para tirar do poder o presidente brasileiro tido como comunista. Imagem essa reforçada, diz-nos o novo filme, por telejornais americanos ao compará-lo a Fidel Castro e o Brasil a uma nova Cuba. Ou, mais preocupante ainda, dizia Gordon, a uma China de versão ocidental. Para Kennedy, ele avalia que Goulart poderia se tornar um ditador de traço populista, como Juan Perón na Argentina. São alguns dos muitos exemplos audiovisuais do filme, pouco conhecidos até mesmo nos Estados Unidos, mas inéditos por aqui, assegura Tavares.

Aos 41 anos, o diretor dedicou-se por mais de cinco ao projeto e contou com uma assessoria privilegiada. Camilo é filho do jornalista e ex-militante Flávio Tavares, um dos presos políticos trocados pelo embaixador Charles Burke Elbrick, sequestrado em 1969. Ao procurar conhecer melhor a trajetória do pai, que se exilou com o grupo no México, onde o diretor nasceu, leu o livro de memórias de Flávio e idealizou o filme a partir dele. Mas uma pasta reavivada pelo pai, que continha entre os documentos um dos telegramas, levou-o aos arquivos de Washington e à descoberta de material muito mais precioso. “A partir disso, o filme mudou de foco”, diz o cineasta a CartaCapital. “A documentação encontrada, a exemplo das correspondências, é conhecida e estudada há muito por pesquisadores americanos, mas nunca soubemos ter sido revelada no Brasil. Foi surpresa até para meu pai.”

Tal espólio, por décadas classificado como altamente secreto, encontra-se aberto a pesquisadores nos EUA. Entre as imagens estão situações das quais Tavares sempre ouvira falar, como a visita de Jango a uma base militar do Nebraska, capitaneada por seu algoz Gordon. Para muitas dessas pérolas, o realizador contou com o apoio de Peter Kornbluh, especialista ligado ao Arquivo de Segurança Nacional, e com o acervo das bibliotecas batizadas com os nomes dos dois presidentes do período. Vêm à tona, por causa dessa pesquisa, protagonistas como Robert Bentley, assessor de Gordon na embaixada, e Vernon Walters, seu adido militar. O primeiro é entrevistado e, em tom evasivo, comenta que o apoio americano era para ele não mais que uma polêmica quando chegou ao País. Negará, em seguida, ter ouvido falar da Operação Brother Sam. Ambos testemunharam em documentos, no entanto, a aposta em Castelo Branco, então chefe do Estado-Maior do Exército, como figura ideal para atender às expectativas americanas, o que se deu ao assumir a Presidência e se tornar o primeiro presidente do regime.

Na operação fica implícita a impossibilidade de ignorância, tamanha sua estrutura, com o despacho ao Brasil de navios de guerra da Marinha americana e munição pesada. Kornbluh mostra ainda como se tornaram triviais ações de propaganda encobertas pela CIA para pressionar o novo governo, a exemplo do estímulo a greves, editoriais da imprensa contra Goulart e financiamento de campanhas a candidatos opositores. Num projeto mais elaborado, relembra-se a criação de dois núcleos de sustentação da direita, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o Ipes, e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o Ibad.

É do analista uma frase-síntese no filme, quando lembra que toda a iniciativa americana aconteceu, por hipótese, em nome da democracia. Com essa bandeira, chegou-se ao Ato Institucional nº 1, que cassou os direitos políticos. Entre as figuras nacionais que debatem o passado, estão os militares Newton Cruz e Jarbas Passarinho. Este foi o signatário da liberação de Tavares em 1969 e a quem, desavisado, concedeu a entrevista, num dos lances surpreendentes do documentário.

Casa Branca lá e cá 

Uma safra de filmes recupera personagens marcados pela ditadura

Alguns metros separam o destino comum de dois personagens do cenário político dos anos 1960, rivais em seu credo. Carlos Marighella, guerrilheiro de esquerda, foi assassinado em 1969 na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Dois anos depois, próximo a uma das esquinas da rua, o empresário Henning Boilesen morreu alvejado por organizações de combate à ditadura. Dinamarquês baseado no Brasil, integrava o grupo empresarial que financiava o aparato para perseguição, tortura e morte de militantes como Marighella. A memória distante desses acontecimentos enredados foi revigorada com a realização dos recentes documentários Marighella, também focalizado anteriormente por Silvio Tendler, e Cidadão Boilesen.

São exemplos da atenção do documentário brasileiro a um dos períodos mais controversos da história nacional. O processo, mais do que buscar um painel ambicioso, tem sido pontual, como se dá em Hércules 56, no qual Silvio Da-Rin repassa o episódio da troca de presos políticos pelo embaixador Charles Elbrick. No avião que dá título ao filme, com destino ao México, estava Flávio Tavares. Às figuras primeiras do universo da esquerda soma-se Iara Iavelberg, a companheira de Carlos Lamarca, cuja vida fora revista por ficção de Sérgio Rezende.

Em Busca de Iara, de Flavio Frederico, estreia dia 12 no festival de documentários É Tudo Verdade. O evento exibe O Fim do Esquecimento, de Renato Tapajós, e recupera seu média-metragem Em Nome da Segurança Nacional, de 1984. Tendler é relembrado com Os Anos JK (1980) e Jango (1984), mesmo programa escalado pela SescTV para domingo (31), somado a Paulo Companheiro João, de Lur Gomes, a partir das 19 horas. Ainda no evento, sete curtas-metragens do Ipes. De caráter afetivo e menos engajados na crítica histórica do período são Marighella, de sua sobrinha Isa Grispum Ferraz, Diário de uma Busca, de Flávia Castro, exibidos nos cinemas, e Os Dias com Ele, de Maria Clara Escobar. O “ele” em questão é o filósofo perseguido Carlos Henrique Escobar, em retrato de descoberta realizado por sua filha, vencedor do último Festival de Tiradentes.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Nossos corruptos são mais honestos que os deles

A tão aguardada Lista de Janot, que na sexta-feira passada dizimou o PP, em particular sua seção gaúcha, deveria nos ensinar algumas lições, que bem aprendidas nos levariam a uma situação política mais racional, tranquila e positiva para todos.

A primeira lição seria sobre a tão propalada superioridade dos gaúchos em relação ao resto dos brasileiros. A ideologia do gauchismo está em alta em nosso estado. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra! é um grito de guerra que é utilizado amiúde, em todas as esferas de nossa vida social. Mas esta ideologia do gauchismo, à parte o folclore, tinha um uso político claro aqui no Rio Grande. Variados setores e a grande imprensa justificavam que o PP gaúcho não apoiava nem dialogava com os governos Lula e Dilma porque era mais honesto que o PP nacional , que por sua venalidade se aproximava do PT. O PMDB gaúcho não apoiava nem dialogava com os governos Lula e Dilma porque era mais honesto que o PMDB nacional, que por sua venalidade se aproximava do PT. A Lista de Janot, (embora, registre-se, não inclua o PMDB gaúcho) desmonta esta tese. O PP gaúcho não apóia nem dialoga com Lula e Dilma não porque é mais honesto que o PP nacional, e sim porque é mais conservador e direitista. Esta é a razão, igualmente, porque o PMDB gaúcho não apóia nem dialoga com Lula e Dilma. Aqui no RS, a combinação de um PT forte com a tradição trabalhista , ainda levada pelo PDT e PTB , empurraram o PP e o PMDB para a direita. Ninguém é mais honesto ou desonesto porque nasce num determinado estado. Não há uma determinação geográfica na honestidade. É simples assim.
A segunda lição seria sobre a universalidade da corrupção. Uma manipulação deslavada de fatos, boatos e denúncias, praticada por agentes públicos e órgãos da imprensa, há bom tempo tenta criar a “verdade” de que a corrupção no Brasil nasceu com o PT e este é a fonte de todo o mal. A Lista de Janot é pródiga em grandes nomes da Oposição. Num ambiente de mínima racionalidade, seria evidente a conclusão que a eliminação ou pelo menos a expressiva redução da corrupção no país não passa pela cristianização de um partido e sim pelas mudanças necessárias na organização política brasileira que reduzam a influência do poder econômico nas eleições. Uma Reforma Política séria, como aquela proposta pela OAB e CNBB, por exemplo (a quem não se pode acusar de petismo…) seria a consequência desejada desta lista. Ou se reduz o custo das campanhas e se aumenta o controle dos partidos e da sociedade sobre os candidatos e parlamentares ou a corrupção de uns será apenas substituída pela de outros que os sucederem nos cargos.
A terceira lição seria sobre o perigo das generalizações e condenações antecipadas. Há meses meras denúncias oriundas de delações premiadas feitas por notórios criminosos ( que por óbvio se importam apenas com suas vidas…) são apresentadas como verdades absolutas. Agora, não dão origem a um único processo, mas tão somente à abertura de inquéritos, onde começarão as investigações. O próprio Ministro Teori Zavascki adverte sobre a necessidade de não se anteciparem julgados. Uma vez atingidos todos , seria de esperar que os princípios básicos de uma sociedade civilizada- a presunção de inocência, o direito de defesa, o resguardo da privacidade e do segredo quando legalmente definidos- passassem a predominar neste ambiente tão conturbado. Todos ganhariam com o cessar do uso político ilegal e abusivo de elementos contrabandeados de autos onde não têm comprovação alguma.
Mas é pouco provável que qualquer uma destas lições seja aprendida. A reação da grande imprensa local à Lista , em particular do grupo RBS, denota que não há mais o mínimo espaço para a racionalidade no debate político. Como a Lista não agradou ( não atingiu o PT , mas sim o PP, que é aliado) foi secundarizada e relativizada, os ataques ao PT recrudesceram (um colunista de Zero Hora na segunda-feira, dia 9, bateu o recorde mundial da baixaria) e parte da classe média é insuflada cotidianamente à beira da violência, gerando o primeiro Panelaço Vip da história, verificado no popular bairro da Bela Vista , onde em pleno Dia Internacional da Mulher , durante um pronunciamento público, a Presidenta legitimamente eleita era chamada de vaca e outras coisas mais chulas aos berros…
Fica claro que não está em disputa a moralização do país, nem o fim da corrupção. O que se disputa é a distribuição da riqueza e o orçamento do Estado. E nesta luta, a direita não quer mediações.

Antônio Escosteguy Castro é advogado.