quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CONSELHÃO DO GOVERNADOR TARSO COM NOVOS DESAFIOS

RADICALIZANDO A DEMOCRACIA
 
Nesta Quarta-feira, dia 26 de dezembro, durante a reunião de entrega dos relatórios das Câmaras Temáticas, no Palácio Piratini, Tarso propôs novos desafios aos conselheiros da próxima gestão: cobrar do Governo as recomendações apresentadas, fiscalizar a execução orçamentária do Estado e atenção ao Programa de Desenvolvimento Industrial dirigido a 22 setores produtivos
 Governador recebe recomendações do Conselhão e resultados das câmaras temáticas
Foto destaque

O governador Tarso Genro recebeu, nesta quarta-feira (26), no Galpão Crioulo do Palácio Piratini, o resultado do trabalho das 11 câmaras temáticas do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS), em 2012. A atividade ocorreu com a participação de mais de 30 integrantes do Conselhão.

Nos relatórios entregues constam sugestões sobre quais câmaras devem continuar seus debates no próximo ano, como é o caso da Saúde, Educação e Copa. Os relatórios contêm recomendações ao Executivo estadual e um resumo de todos os debates e reuniões. O governador informou aos conselheiros que submeterá os relatórios à Assessoria Superior para análise e encaminhamentos.

Esta foi a última atividade da atual gestão do CDES-RS, que terá nova composição na gestão 2013/2014. "Esta experiência inovadora, extremamente exitosa, é uma das conquistas políticas mais importantes do nosso Governo", disse Tarso, agradecendo o trabalho voluntário dos 90 integrantes e atribuindo o sucesso ao compromisso e dedicação do colegiado gaúcho criado com base na experiência do Conselhão nacional, instalado em 2003.

O chefe do Executivo destacou que o acúmulo de conhecimento dos conselheiros permitiu estabelecer debates e um padrão mais avançado de assessoria e consultoria do governador, ajudando a formular políticas públicas e implementá-las. "Este método contribui para que mude o Estado e a forma de pensar, alterando as normas que regulam as funções públicas", disse. Tarso propôs novos desafios aos conselheiros da próxima gestão: cobrar do Governo as recomendações apresentadas, fiscalizar a execução orçamentária do Estado e atenção ao Programa de Desenvolvimento Industrial dirigido a 22 setores produtivos.

Tarso disse que a soma do diálogo social, estabilidade política e a integração dos órgãos de Governo na Sala do Investidor permitem que o Rio Grande atraia grandes empreendimentos, a exemplo da papeleira de Guaíba e estaleiros na Região Sul. Ele destacou que o Governo garantiu a captação de R$ 10 bilhões de agências e do Orçamento Geral da União, permitindo assumir a destinação de 12% do orçamento estadual para a Saúde, em 2013, como solicitado pelo Conselhão, observando que estas escolhas terão consequências e serão dialogadas com a sociedade.

Sugestões
O secretário-executivo do CDES-RS, Marcelo Danéris, fez um breve resumo das mais de 200 sugestões entregues. A apresentação, assim como todos os 11 relatórios entregues estão disponíveis na biblioteca do site www.cdes.rs.gov.br. Danéris lembrou das mais de 130 recomendações já acolhidas e em execução. "Estes relatórios trazem mais um conjunto de contribuições e orientações ao Executivo que poderão resultar em ações e políticas públicas para beneficiar a população na diversidade de temas analisados", resumiu. Os colegiados realizaram mais de 70 reuniões ao longo do ano com nove recomendações encaminhadas, além de sete Diálogos Temáticos sobre segurança alimentar, Rio+20, modernização do Estado, plano de cultura, desafios do desenvolvimento rural, política de microcrédito e igualdade racial.

Integrante do Conselho gaúcho e nacional, Paulo Vellinho disse que os conselhos são estruturas altamente representativas, democráticas e cidadãs. "É um trabalho apaixonante, onde o conselheiro deve atuar, além de seus interesses corporativos, pensando o Estado como um todo", disse, durante a entrega dos documentos das câmaras de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico; Cultura e Comunicação; Economias do Campo; Qualidade da Educação; Indústria Naval, Petróleo, Gás Natural e Setor Energético;Infraestrutura e Logística; Modernização do Estado; Previdência Pública; Proteção Social; Saúde e Copa 2014. As câmaras temáticas são grupos de trabalho que aprofundam debates e adotam posições sobre diferentes temas pautados tanto pelo Governo como pelos próprios conselheiros.


Texto: Assessoria de Imprensa
Foto: Caco Argemi
Edição: Redação Secom

“Vigiar e punir” ou “participar e defender”?



Princípios constitucionais são inflexíveis, mesmo por vontade majoritária do STF.

Excelente matéria do Jurista Thomaz Bastos. Uma verdadeira aula!


 Por Márcio Thomaz Bastos
A importância da advocacia criminal é diretamente proporcional à tendência repressiva do Estado. Nunca o esforço do advogado criminalista foi tão importante como agora. É o que nos revela o balanço crítico dos acontecimentos que marcaram a vida do Direito Penal, neste ano que passou.
Desde que a democracia suplantou o regime de exceção, em nenhum momento se exigiu tanto das pessoas que, no cumprimento de um dever de ofício, dão voz ao nosso direito de defesa. Mas é na firmeza da atuação profissional desses defensores públicos e privados que a Constituição deposita a esperança de realização do ideal de uma liberdade efetivamente igual para todos.
Se em 2012 acentuou-se a tendência de vigiar e punir, o ano que se descortina convida a comunidade jurídica a participar do debate público e a defender, com redobrada energia, os fundamentos humanos do Estado de Direito. O advogado criminalista é, antes de tudo, um cidadão. Agora é convocado a exercer ativamente a sua cidadania para evitar uma degeneração autoritária de nossas práticas penais, para além da luta cotidiana no processo judicial.
Não é de hoje que o direito de defesa vem sendo arrastado pela vaga repressiva que embala a sociedade brasileira. À sombra da legítima expectativa republicana de responsabilização, viceja um sentimento de desprezo pelos direitos e garantias fundamentais. O “slogan” do combate à impunidade a qualquer custo, quando exaltado pelo clamor de uma opinião popular que não conhece nuances, chega a agredir até mesmo o legítimo exercício da “liberdade de defender a liberdade”, função precípua do advogado criminalista.
O papel social dos advogados, que a Constituição julga indispensável, vem sendo esquecido. Não é raro vê-los atacados no legítimo exercício de sua profissão. Uns têm a palavra cassada pela intolerância à divergência inerente à dialética processual. Outros são ameaçados injustamente de prisão, pela força que não consegue se justificar pela inteligência das razões jurídicas. Nada disso é estranho à prática da advocacia.
Ocorre que, em 2012, a tendência repressiva passou dos limites. Ameaças ao exercício da advocacia levaram ao extremo a “incompreensão” sobre o seu papel social numa sociedade democrática. Alguns episódios dos últimos meses desafiaram os mais caros postulados da defesa criminal. Refletir sobre as águas turbulentas que passaram é fundamental para orientar a ação jurídica e política que tomará corpo no caudal do ano que vem - em prol da moderação dos excessos de regulação jurídica da vida social.
Um desses diabólicos redemoinhos nos surpreendeu em agosto, com a pretendida supressão do habeas corpus substitutivo. A Primeira Turma do STF considerou inadequado empregar a mais nobre ação constitucional em lugar do recurso ordinário. O precedente repercutiu de imediato nos tribunais inferiores, marcando um perigoso ponto de inflexão na nossa jurisprudência mais tradicional.
Nenhum dos argumentos apresentados mostrou-se apto a restringir o alcance desse instrumento fundamental de proteção da liberdade. Ao contrário, revelaram uma finalidade pragmática de limpeza de prateleiras dos tribunais. A guinada subordinou a proteção da liberdade a critérios utilitários, como se conveniências administrativas pudessem se sobrepor às rigorosas exigências de garantia do direito fundamental.
O habeas corpus foi forjado em décadas de experiência na contenção de abusos de poder. A Constituição indicou que sua aplicação é ampla, abolindo as restrições outrora impostas pelo regime de exceção. Abriu caminho para que a jurisprudência reafirmasse a primazia do valor da liberdade.
O posicionamento dominante na época do regime autocrático, todavia, ressurge nos dias de hoje. Em pleno vigor da democracia, o retrocesso aparece sob o singelo pretexto de desafogar tribunais.
Porém, a abolição do habeas substitutivo dificultará a reparação do constrangimento ilegal. Hoje, não são poucas as ordens de libertação concedidas pelo Supremo, evidenciando a grande quantidade de ilegalidades praticadas e não corrigidas. Por isso, a sua supressão perpetuará inúmeros abusos.
O recurso ordinário, embora previsto constitucionalmente, não é tão eficaz como o habeas para coibir o excesso de poder. A começar por suas formalidades, que são muito mais burocráticas se comparadas às do remédio constitucional. Convém não esquecer que a utilização deste como via alternativa para reparação urgente de situações excepcionais foi fruto de uma necessidade do cidadão, ao contrário da sua pretendida eliminação.
A recente modificação da Lei de Lavagem de Dinheiro também abriu um novo flanco para os abusos. O texto impreciso expõe o legítimo exercício profissional a interpretações excessivas. Por trás da séria discussão sobre os deveres profissionais na prevenção da lavagem de dinheiro, esconde-se muitas vezes a vontade de arranhar o direito de defesa dos acusados.
Há quem acuse o advogado de cometer um ilícito, quando aceita honorários de alguém que responde a processo por suposto enriquecimento criminoso. O claro intuito desse arbítrio é evitar que os réus escolham livremente seus advogados. Restringe-se a amplitude da defesa atacando os profissionais que, “por presunção de culpabilidade”, recebem “honorários maculados”, mesmo que prestem serviços públicos e efetivos.
Em afronta à própria essência da advocacia e em violação ao sigilo profissional e à presunção de inocência, acaba-se criando uma verdadeira sociedade de lobos, na qual todos desconfiam de todos. Para alguns, o advogado deveria julgar e condenar seus próprios clientes. Diante de qualquer atividade “suspeita”, deveria delatá-los, sob pena de participar ele mesmo do crime de lavagem de dinheiro supostamente praticado por quem procurou o seu indispensável auxílio profissional.
Convém lembrar que o advogado atende e defende com lealdade quem lhe confia a responsabilidade de funcionar como o porta-voz de seu legítimo interesse. Não deve emitir, ou mesmo considerar, sua própria opinião sobre a conduta examinada, mantendo um distanciamento crítico em relação ao relato que lhe é apresentado.
Atentos à criminalidade que se sofistica para dar aparência de licitude a recursos obtidos de forma criminosa, nunca fomos contrários à discussão sobre ajustes nos deveres profissionais de algumas atividades reguladas. Contudo, a nova situação não pode servir de desculpa para proliferação de um dever geral de delação ou para devassar conteúdos legitimamente protegidos pelo sigilo profissional.
A advocacia criminal pauta-se pela confiança que o cliente deposita no seu defensor, colocando em suas mãos o bem que lhe é mais caro: sua própria liberdade.
Outro desafio contemporâneo à advocacia é a confusão entre o advogado e seu cliente. O preconceito é tão antigo quanto a nossa profissão. O que muda é o grau de consciência social que uma determinada época tem a respeito do valor do devido processo legal. No início do ano, ao defender um de meus clientes, sofri essa odiosa discriminação.
Na ditadura, os defensores da liberdade corríamos riscos e perigos pessoais ao questionar o valor jurídico dos atos de exceção. Na vigência do regime democrático, o pensamento autoritário encontrou na velha confusão entre advogado e cliente um meio de suprimir a liberdade com a qual ainda não se acostumou a conviver. A ignorância e a má-fé sugerem que ou o advogado defende um réu inocente ou ele é cúmplice do suposto criminoso.
Nada mais impróprio. A culpa só pode ser firmada depois do devido processo legal. Nunca antes. É um retrocesso colocar em questão esse dogma do Direito conquistado pela modernidade. Enquanto a confusão persistir, devemos repetir sem descanso que o advogado fala ao lado e em nome do réu num processo penal, zelando para que seja tratado como um ser humano digno de seus direitos constitucionais.
A Reforma do Código Penal também é sintomática dessa tendência repressiva. Elaborada por notáveis juristas e enviada em junho para o Congresso, importa conceitos do direito estrangeiro, sem a necessária adaptação à nossa realidade jurídica. Outros institutos essenciais, como o livramento condicional, são suprimidos. Além disso, eleva as penas corporais para diversos delitos e deixa passar a oportunidade de corrigir falhas técnicas já de todos conhecidas.
Outro sinal dos tempos é a inovação da jurisprudência superior na interpretação de alguns tipos penais, bem como a mudança de postulados do Processo Penal. Assistimos a um retrocesso de décadas de sedimentação de um Direito Penal mais atento aos direitos e garantias individuais. Quando se trata de protegê-los, não pode haver hesitações. Rompidos os tradicionais diques de contenção, remanesce o problema de como prevenir o abuso do “guarda da esquina”, como diria um velho político mineiro, às voltas com histórico desvio de rota na direção da repressão sem freios.
Também notamos uma tendência a tornar relativo o valor da prova necessária à condenação criminal, neste ano “bastante atípico”. Quando juízes se deixam influenciar pela “presunção de culpabilidade”, são tentados a aceitar apenas “indícios”, no lugar de prova concreta produzida sob contraditório. Como se coubesse à defesa provar a inocência do réu! A disciplina da persecução penal não pode ser colonizada por uma lógica estranha, simplesmente para facilitar condenações, nesse momento de reforço da autoridade estatal, sem contrapartida no aperfeiçoamento dos mecanismos que controlam o seu abuso.
A tendência à inversão do ônus da prova no processo penal também coloca em questão a tradicional ideia do “in dubio pro reo”, diante da proliferação de “presunções objetivas de autoria”. Tampouco a dosimetria da pena pode ser uma “conta de chegada”.
Quanto mais excepcionais os meios, menos legítimos os fins alcançados pela persecução inspirada pelo ideal jacobino da “salvação nacional”. Tempos modernos são esses em que nós vivemos. Em vez de apontar para o futuro, retrocedem nas conquistas civilizatórias do Estado Democrático de Direito.
Nesses momentos tormentosos, é saudável revisitar os cânones da nossa profissão. Como ensinava Rui Barbosa, se o réu tiver uma migalha de direito, o advogado tem o dever profissional de buscá-la. Independentemente do seu juízo pessoal ou da opinião publicada, e com abertura e tolerância para quem o consulta. Sobretudo nas causas impopulares, quando o escritório de advocacia é o último recesso da presunção de inocência.
É necessário reafirmar os princípios que norteiam o Direito Penal e lembrar, sempre que possível, que a liberdade do advogado é condição necessária da defesa da liberdade em geral. A advocacia criminal, desafiada pela ânsia repressiva, deve responder com firmeza. Alguns meios de resgatar o papel que cumpre na efetivação da justiça estão ao alcance da sua própria mão.
O primeiro passo deve ser investir num esforço pedagógico de esclarecimento social acerca da relevância do papel constitucional do advogado criminalista. Ele não luta pela impunidade. Também desejamos, enquanto membros da sociedade, a evolução das instituições que tornam possível uma boa vida em comum. Somos defensores de direitos fundamentais do ser humano, em uma de suas mais sensíveis dimensões existenciais: a liberdade de dar a si mesmo a sua regra de conduta.
Cabe a nós zelar pelas garantias dos acusados e pela observância dos princípios básicos do Direito Penal do Estado Democrático de Direito, contra as tentações do regime excepcional que não deve ser aplicado nem mesmo aos “inimigos na nação”.
É nosso dever de ofício acompanhar a repercussão do julgamento que pretendeu abolir o habeas corpus substitutivo, manifestando-nos sempre que possível para demonstrar os prejuízos desse regresso pretoriano. A fim de restabelecer o prestígio da ação constitucional, também se faz necessária a continuidade de seu manejo perante todos os tribunais.
Especificamente com relação às distorções que uma interpretação canhestra da nova lei de Lavagem de Dinheiro pode instituir, é importante registrar que a imposição do “dever de comunicar” não pode transformar os advogados em delatores a serviço da ineficiência dos meios estatais de repressão. É contrário à dignidade profissional ver no advogado um vulgar alcaguete.
É evidente que essa condição não torna a advocacia um porto seguro para práticas de lavagem de dinheiro, nem assegura a impunidade profissional. Apenas permite o livre exercício de uma profissão essencial à Justiça.
Deve ser louvada a recente decisão do Conselho Federal da OAB, segundo a qual “os advogados e as sociedades de advocacia não têm o dever de divulgar dados sigilosos de seus clientes que lhe foram entregues no exercício profissional”. Tais imposições colidem com normas que protegem o sigilo profissional, quando utilizado como instrumento legítimo indispensável à realização do direito de defesa.
Ainda assim se faz necessário o constante aprimoramento das regras éticas de conduta profissional. Em paralelo, sugere-se a formulação de códigos internos aos próprios escritórios de advocacia, com orientações, ainda que provisórias, acerca dessas boas práticas, no intuito de resguardar os advogados que se vêm diante da indeterminada abrangência da nova lei repressiva.
Esses “manuais de boas práticas” devem ser elaborados com vistas também a regulamentar uma nova advocacia criminal que hoje se apresenta. A consultoria vem ganhando espaço cada vez maior na área penal, em razão do recrudescimento das leis penais, seja pela proliferação de regras de compliance que regulam a atividade econômica. Para que haja segurança também na prestação desse serviço, é imprescindível uma regulamentação específica.
“Participar e defender”, em 2013, é a melhor maneira de responder aos desafios lançados pelo espírito vigilante e punitivo exacerbado no ano que passou. É renovar, como projeto, a aposta na democracia e na emancipação, contra as pretensões mal dissimuladas de regulação autoritária da vida social.
A repressão pura e simples não é suficiente para dar conta do problema da criminalidade. Embora a efetiva aplicação da lei ajude a aplacar o sentimento de insegurança, o Direito Penal não deve ser a principal política pública.
Outras linhas de atuação política devem ser prestigiadas. Pode-se pensar no controle social sobre o Estado, por meio do aprofundamento das políticas de transparência. Elas ganharam novo impulso com a promulgação de uma boa Lei de Acesso à Informação, que está longe de realizar todas as suas potencialidades de transformação criativa.
A prestação de contas de campanha em tempo real foi um avanço inegável. Uma medida discreta, mas eficaz, entre outras que podem ajudar a prevenir o espetáculo do julgamento penal.
Deve-se mencionar também a necessidade mais premente e inadiável de nossa democracia: a reforma política, com ênfase no financiamento público das campanhas eleitorais.
Enquanto o habeas ainda resiste, não podemos deixar de aperfeiçoar mecanismos de controle de abusos de autoridade. A esfera da privacidade e da intimidade das pessoas também carece de maior proteção jurídica.
Nossos servidores públicos ainda esperam um sistema de incentivos na carreira que recompense o maior esforço em favor dos interesses dos cidadãos.
A simplificação de procedimentos administrativos e tributários, ao diminuir as brechas de poder autocrático, pode desarrumar os lugares propícios à ocorrência da corrupção que nelas se infiltra.
É legítimo travar com a sociedade um debate aberto sobre os meios para a plena realização do pluralismo de ideias e opiniões.
Enfim, a educação para a cidadania, numa democracia segura dos valores da cultura republicana, é tema que deve ocupar mais espaço na agenda política de um país que não quer viver apenas sob a peia da lei punitiva.
Na encruzilhada em que se encontra o Direito Penal brasileiro, os desafios lançados pelo ano que passou só tornam mais estimulante a nobre aventura da advocacia criminal. A participação democrática e a defesa dos direitos humanos continuam apontando a melhor direção a seguir. As dificuldades de 2012 só enaltecem a responsabilidade do advogado, renovando suas energias para enfrentar as lutas que estão por vir.
Como anotou um prisioneiro ilustre, a inteligência até pode ser pessimista, mas continuamos otimistas na vontade de viver um ano mais compassivo.

Márcio Thomaz Bastos é advogado e foi ministro da Justiça (2003-2007).
Revista Consultor Jurídico, 24 de dezembro de 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Brigada Militar: como era e como é hoje!



Algumas fotos, documentos e considerações da minha trajetória na Brigada Militar.
Muito companheirismo, trabalho, lutas, mobilizações e transformações!
 Esta postagem não esta acabada.....
Você pode contribuir, nos enviando suas lembranças, opiniões, fatos e fotos. Vamos construir a história!
O objetivo é lembrar aos mais novos, o que era a Brigada em comparação com a atual.

Galera no intervalo do curso de formação em Santiago-RS 1987



Em 1986 servi ao exército e dei baixa. Optei por não ficar e trabalhar em São Borja. Naquela época não havia emprego e eu passei a pescar e caçar para me manter.
Foi num dia destes, quando estava acampado  na costa do rio Uruguai, ouvi no rádio que haveria inscrições para seleção da Brigada. Fiz minha inscrição e comecei estudar e me preparar.
Quando chegou a época, as provas deveriam ser feitas em Santiago durante uma semana. Seriam provas teórica, física e médicas. Aí veio o problema: eu não tinha dinheiro para ir a Santiago-RS e me de segunda a sábado.
Juntei tudo que tinha, mas faltava mais da metade. Arrumei emprestado um pouco mais com o meu amigo e irmão Amilton Kenedy. Fui a Santiago. Comprei passagem de Ida e volta. O que sobrou eram para manter estadia e alimentação na cidade. Cheguei lá, com alguns de São Borja, dentre os quais o Reinaldo Fernandes, meu colega de exército, vizinho e amigo (hoje motorista da Planalto). Vi que o dinheiro que sobrou, não daria para pagar local para dormir. Então combinamos com o Reinaldo o seguinte: ele locaria um quarto numa pensão e eu , após todos “irem dormir”, entrava e dormia no quarto. Tudo certo...tudo combinado. Mas o local que o Reinaldo alugou, para entrar teria obrigatoriamente de passar pela portaria. Desta forma furou nosso plano “a”. Tive de ir para o "b", que não existia. Aí resolvi dormir na praça, pois estava acostumado a dormir no mato! 
Estava eu na praça de Santiago lá pelas 22 horas, quando um guarda chegou e disse “tu não pensa que vai dormir aqui. Aqui não pode!”...saí dali e fui para próximo de um “X” na lateral da praça. e sentei num banco, quando chegou um oficial da brigada, (que soube depois tratar-se do comandante dos bombeiros de Santigo e cunhado do Ribas meu colega de curso). O dito oficial me pediu para assinar um abaixo-assinado, para que na constituição de 2008 a PM não fosse “aquartelada”. Disse a ele que assinaria se ele me conseguisse para que eu dormisse no quartel dos bombeiro. Ele concordou. Eu assinei e ele me encaminhou para o quartel dos bombeiros de Santiago. Cheguei lá, fui colocado numa casa antiga, abandonada nos fundos do quartel . Lá me deram uma espuma de colchão para dormir no chão. Para mim era um hotel 5 estrelas. Havia uma geladeira que poderia colocar a comida. A partir daí eram provas, e pernoite no quartel. Comprei banana e leite. E passei os dias comendo estes produtos de manhã , meio dia e a noite. Na quinta-feira não tinha mais leite,  havia sobrado 4 bananas e dinheiro algum. Comi duas bananas na quinta, deixei duas para sexta. Na sexta comi uma de manhã e deixei a outra para o sábado. No sábado fui a geladeira pela manhã, "enxergando amarelo de fome", mas, nada achei: haviam comida a última banana.  
Foi duro, mas como eu já tinha comprado previamente a passagem, o retorno estava garantido. Passava o dia abaixo de água!
No meio dia de sábado, foi divulgado o resultado: eram 643 inscritos e, eu havia tirado o primeiro lugar na seleção. O meu irmão e colega Joel Souza que é hoje o comandante do Grupamento Ambiental da BM de São Borja, tirou o segundo! 
Aí, quando eu me "tornei persona non grata" , por ser líder de associação classista e do PT, muitos comandantes tentavam de todas as formas que eu pedisse demissão, ao qual eu dizia: "não saio pois eu entrei pela porta da frente!"
Minha mãe me entrega o certificado de formação 1987
Painel com os foto dos colegas de formatura do curso em 1987


Convite para a festa de formatura. O Vainer e o Patrício devem lembrar bem. hehehe?

Na festa de formatura da turma em Santiago 1987















Foto da funcional


No policiamento de rua em São Borja. Desfile de 7 de setembro 88/89









O "grupo", comandado pelo CB Ladir, Sd Eraldo, Felipe, Mirandão, Guimarães e Rene. 
Aprendi muito com estes colegas. Técnicos, competentes, operacionais. 
Penso que deveriam haver um incentivo grande para que veteranos deste quilate ficassem e fossem instrutor da "vida prática policial" dos novos PMs!
Esta foto em 1990, é após o almoço, no interior de Itacurubi, onde fazíamos uma operação de combate a assaltos, tráfico, abigeato e contrabando. Como disse, íamos armados com fé , esperança e coragem. Bons companheiros da época, hoje todos aposentados. Apreendi muito com eles!  Mas volto a ressaltar que nós tínhamos de trabalhar sem coletes, e a munição dada pelo governo da época, era de 38 recarregada. Nós tínhamos que comprar a própria munição, para que nas ocorrências, que não eram poucas e sempre pesadas, com tiroteios, não ficássemos a mercê dos bandidos. Muitas munições nem saiam do cano do revólver!. Tudo isso começou a mudar com o nosso governo, do Olívio Dutra, que criou regras de segurança para a munição. Naquela época, lutávamos por coletes a prova de bala. Após muita pressão feita por nós, o governo mandou alguns coletes. Abrimos e vimos que ao invés de um material a prova de bala, era "recheada” de placas de raio “X”. Um dia, peguei o tal colete e levei para um local e junto com os colegas testamos eles. Atiramos de .22, .32, .38 e .380. Passou todos os tiros. Levamos os "coletes" e entregamos  ao comando da época, dizendo que além de não proteger, era um peso morto para carregar durante uma ocorrência. Ameaçaram-nos com punição. Nós ameaçamos ir para a imprensa. E aí "deixaram" por isso mesmo! Recolheram os ditos coletes e nunca mais apareceram. Havia a informação que, o governo da época comprou os “coletes” da uma empresa de um político do partido governista. Quando assumimos o governo do estado, junto com o secretário Bisol, padronizamos a utilização de coletes!
Durante o tempo que estive na ativa, atuei em 4 centenas de ocorrências, tanto na BM ou nas atuações com a Policía Federal. Nestas ocorrências, foram dezenas de tiroteios e centenas de prisões.
Felizmente sobrevivi assim como muitos outros colegas. Outros, infelizmente, faleceram ou foram feridos e tiveram de ir para inatividade.
A vida era muito dura!



  Operação na fronteira no rio Uruguai 1990 (sem coletes, sem sal-vida, sem comunicação)

  
Habilitação que possibilitava a conduzir embarcação na Brigada. Eu o Cb Ladir, Cb Ivo e o Guimarães fomos habilitados.
Parte da nossa equipe de operações especiais e combate ao abigeato
Patrulha de policiamento em operações especial. Rural e Urbano 1991





Festas de confraternização no Esquadrão da BM em São Borja final da década anos 
80/90.



Quando fui Presidente da Câmara de Vereadores de São Borja em 1997, recebi o Presidente da Assembleia José Gomes (soldado da Brigada) e um dos maiores símbolos de luta que transformou para melhor a instituição.


Pedido para que fosse investigado comando da BM de São Borja

Carreata em na eleição de 1997, com o camarada Olívio!

 Lula e Bisol: Aqui começou a mudança para que houvesse Cidadania que hoje é usufruida pelos PMs do RS.








Com Tarso na eleição para governador que fomos derrotados em 2002!


Recebendo Tarso Genro em São Borja. Coordenei a campanha na cidade e fizemos 71% dos votos na eleição de 2009.
Recebi apoi da presidente Dilma como candidato a prefeito de São Borja. Numa eleição que concorremos tendo como vice a prof. Nara Viana, esposa do  Sargento bombeiro Élvio Viana. Durante a eleição sentimos o preconceito de termos relações profundas com a Brigada Militar.

Eleição a prefeito de São Borja em 2012:  Primeira vez na história do RS, que um chapa de candidato a prefeito e vice tem relação direta com a Brigada Militar!

Na festa dos 20 anos de formatura da turma. Frente do 5º RPMON em Santiago

Na nossa eleição de 1996 com o então deputado Paim

Companheiros da Brigada, na Foto, o os CB Ladir, sds, Júlio, Miranda, Gilvan, Campos, Guerreiro, Goulart, Nestor, Braga, e mais.... que nos acompanharam na linha de frente da eleição de 1996. Turma de fé e responsáveis pela transformação da Brigada!
Quando criamos a Associação dos Cabos e Soldados BM de São Borja. Fui o presidente que organizou, mobilizou e registrou a entidade representativa. Uma das primeiras "ASSOCIAÇÃO". do Estado!

Carteira 001 de Sócio e primeiro Presidente da associação. A nossa Associação foi uma das primeiras na metade Sul que tinha o perfil de luta e transformação. Foi um dos marcos e trincheiras de luta que ajudaram a transformarar a Brigada no que é hoje!

Quando nós paramos o estado na primeira greve dos PMs da história do RS e do Brasil!

Noticia de ação das esposas dos PMs de São Borja. Era mobilização constante. Tudo isso deu os frutos: Transformou a BM!

Nosso panfleto, quando concorri a vereador em 1995

As heroicas esposas dos PMs de São Borja, na mobilização. Os praças não podiam se manifestar na época (ver data). São Borja era referência nas mobilizações no interior do RS. Mas éramos os mais visados e perseguidos também! A Regina esposa do hoje, Sargento Júlio, que esta na ativa e em São Borja, era a companheira Presidenta da Associação das Esposas dos PMs!
Denunciando arbitrariedades que os PMs de São Borja eram vítimas por parte do comando local!

Defendendo a BM. Não os atos de alguns oficiais!
Uma das 06 lista de votação aberta, que escolheu o praça PM para concorrer a vereador de São Borja na eleição municipal de 1996. Fui eleito por 95% dos PMs.para poder concorrer tive de optar em sair da BM pois tinha somente 8 anos de "serviço". Na época presidente da Associação dos Praças da BM de São Borja.


FATOS E LEMBRANÇAS 



*Certa vez, tentavam encontrar uma forma de me punir. Desta forma, o sargenteante Bogado me colocou mais de dois meses de serviço na rua Riachuelo, somente na quadra em frente ao mercado "Trevisan". Pois neste local "não tinha como descansar alguns minutos, não tinha como tomar água, nem onde ir no banheiro", e de tempo em tempo alguém "de confiança" passava para ver se eu estava "no posto"! 

*Outra vez, o comando me "caçava" dia e noite, mas eu não deixava "furo". até que um certo dia , como era normal, trocar de serviço, eu troquei com o Lançanova. Eu tirei o serviço do turno do Lança, e quando ele foi assumir o meu, foi impedido. Resultado: deram-me falta no serviço e eu fui preso por uma semana!

*cada PM que vinha trabalhar em São Borja e estava comigo, eu procurava ensinar a dirigir....durante as madrugadas de ronda, sempre tinha um novato em locai ermos assumindo o volante. Minha regra era a seguinte: imagina se o motorista é baleado e o patrulheiro na sabe dirigir?

*Numa tarde estava patrulhando a cidade e soube que havia acontecido um tiroteio no rio Uruguai, onde dois Pms, o Soldado Ivo "capincho"e o soldado Manoel estavam patrulhando as aguas com a lancha (foto acima, cor vermelha). Estes Pms abordaram um barco, que estava lotade de carne roubada e foram recebidos a "bala" pelos ladrões. Os dois Pms foram baleados e o barco ficou todo furado e o motor avariado. Após o tiroteio o Pm Ivo conseguiu remar até a costa do Brasil, atou o barco num sarandi e foi buscar socorro. Após andar 3 kilometros, rio acima, dentro do mato, na costa do rio, chegou numa granja e  aí comunicou a Brigada em São Borja, distante há 30 km do local. Recebi ordem de ir lá e socorrer o PM Ivo que estava baleado e esperar, e esperar reforço para buscar o PM Manoel há 3 km rio abaixo do local onde já estava. A ordem era para não ir, pois os ladrões estavam espalhados pelo mato e se vissem PMS atirariam. Assim como fizeram com os colegas. Cheguei ao local, coloquei o Ivo na viatura, um fuca, que foi para a cidade. Como nunca fui de obedecer ordem “absurda”, Peguei um “mosquetão”, enchi os bolsos de bala, desci o barranco, encontrei uma chalana e remei rio abaixo, chegando no local onde estava o barco amarrado com o Pms Manoel baleado. Foi uma tensão terrível. Eu só, dentro de uma chalana, costeando a margem, com o fuzil pronto, sem saber de onde viria o primeiro tiro. Cheguei ao local do barco, o Manoel estava dentro d’água (ele amarrou uma corda na mão e se jogou na água, ao lado do barco, pois o calor era insuportável e o risco de ficar dentro do barco era maior ainda). Coloquei o PM Manoel no barco, sentei no banco de tábua, coloquei ele sentado no piso do barco, e a cabeça no meu colo. Desta forma ele estava mais protegido, e eu poderia remar rio acima. O Manoel dizia “Rene não me deixa morrer, não me deixa morrer....tenho meus filhos...não me deixa morrer”. Foi terrível a situação... remei rio acima sem parar. Quando cheguei no portinho da granja, os demais colegas já estavam lá. Levamos o Manoel para o Hospital. Fiquei com as mãos em “carne viva” por remar no desespero, para salvar o colega! E tomei um “pito” do oficial por “ter ido buscar o PM Manoel”!
O PM Ivo sofreu cirurgias pois foi atingido por vários disparos no abdome, voltando meses depois a ativa.  Já o PM Manoel, foi alvejado por disparos que atingiram tendões no pescoço e próximo a coluna. Foi aposentado!

*Em algumas das minhas prisões, ou quando era “convidado” para me “explicar”, no 5º regimento da Brigada em Santiago, sabia o que me esperava! Sempre havia uma justificativa para me levaram lá. Às vezes, não havia nada e era só para me torturarem psicologicamente, outras me trancafiavam, sem justificativa alguma, só para “aguardar solução de parte”, na sede. Por vezes, nem sabia qual era a acusação. Um ou dois dias depois, era liberado, sem ter para quem reclamar. Mas, a justificativa era, no fundo, a mesma: por ser presidente e defender os interesses do praças de São Borja. Nas minhas prisões, lembro que pela manhã, ás 8 horas era retirado meu colchão da cela, e só era recolocado a partir das 22hs.
Durante o dia, não podia dormir, mesmo preso. Mas eu dormia mesmo assim, no piso duro da cela.

*certa vez, estava preso em Santiago, eu os Pms Mazzuco e Vargas. Quando chegou um caminhão de pedra. Mandaram chamar os presos (nós)  para descarregar o dito caminhão. Subi no caminhão e sentei em cima das pedras...e disse que não iria descarregar nada!....depois de um tempo de puxa-frouxa, liberaram de tal obrigação “de preso”.

*noutra prisão, o comandante mandou “chamar o preso” para pintar as linhas do campo, para o jogo dos oficiais, no final da tarde. Lá fui eu....no meio da pintura veio um capitão de “língua de fora” dizendo: “o coronel mandou tirar este louco do campo!”.
Que eu fiz: sai pintando as linhas laterais, tão tortas que se você corresse na lateral do campo, sairia pra fora dele, por várias vezes.

* Certa vez estavamos patrulhando São Borja, na madrugada, eu e o PM Sebastião (hoje aposentado). Quando vimos um ação estranha: homens retirando móveis de uma casa. Chegamos mais perto e quando abordamos: foi aquela correria! Após isso, começamos a sermos alvejados de três lado diferentes. O camarada  Sebastião se protegeu num muro e eu levei um tiro no lado do ouvido, caindo na rua. Quando cai, comecei a rolar e tentar ver de onde viam os tiros. Neste rolamento bati com força as costas numa pedra pontuda, que me lesionou por semanas. Quando vi de onde viam os tiros, comecei a atirar. Os Assaltantes, que estavam atrás de um muro nos atiravam de "flobé", com a nossa reação, correram...e nós também, atrás deles....bala e bala!

* Outra feita, estava eu, o Sd Gayer, e o Sd Aquino, numa patrulha para abordar abgiatários na entrada da cidade. Lá pelas 4 da manhã, os ladrões viam "repontando" umas vacas. Quando demos ordem de prisão foi aquele "tendéu" de bala. Nós atiravamso e eles também... Foi quando começaram a correr e nós fomos avançando..e a bala "pipocando"....eu estava mais a frente quando ouvi na escuridão um"Huuuuimmmm"....Eu gritei alguém foi atingido? alguém foi atingido? ...até que o Sd. Gritou eu...eu... voltei correndo, e chamendo por ele...quando achei ele caido.....o Aquino saiu correndo e, no escuro bateu numa cerca de arame farpado pedendo o fuzil que caiu lá na frente e no escuro....Ele disse, que tinha dito que havia sido atingido, pois só assim, eu voltaria!



*Num certo dia lá pelo inicio dos anos 90, estava em casa quando um cidadão estava pedia socorro, pois estava sendo sequestrado. Era levado de “bicicleta” (nunca tinha visto isso).  Mesmo eu estando cível, na esquina da antiga servipasso, próximo a escola Olavo Bilac, no Passo de São Borja, abordei o sequestrador que conduzia a vítima. O sequestrador reagiu e começou a disparar contra mim...me deu um tiro e eu me joguei no chão...comecei a rolar e ele a atirar...durante o rolamento, o sequestrador me atirou mais duas vezes, foi quando consegui sacar a arma, atirando de baixo para cima...neste meio tempo, levantei e saltei por cima do capo de uma saveiro da servipasso, buscando local para proteção. Durante meu salto por cima do capo o sequestrador atirou perfurando o para-lama dianteiro. Quando cai do outro lado voltei a atirar  e tingi o assaltante de raspão no pescoço fazendo se desequilibrar. No segundo tiro atingi na barriga, saindo o tiro na “pá-do-rabo”. Após este fugiu cai caindo...onde em perseguição o prendi e levei preso em flagrante para o hospital.

Tive de entregar o revólver para pericia na Policia Civil, Ficando só com a minha pistola .380. O Advogado do sequestrador acusava-me de ter atingido o assaltante com tiros de pistola. Para tentar me desqualificar, o advogado encontrou um disparo que atingiu um poste de cerca próximo ao tiroteio e comprou o poste. Mandou serrar e achou um a bala de pistola .380. Desta forma tentou me  desmoralizar por conta da “arma” que atendi a ocorrência. Solicitou ao delegado que conduzia o inquérito que fizessem uma pericia na minha pistola para saber se eu tinha ou não disparado com a pistola, e foi atendido. No dia marcado fui lá na delegacia e deram um tiro para pegar o a bala e comparar com a entregue pelo advogado. A balística comprovou que a balas eram diferente. De canos diferentes. Lembra Adão Mauro Mulazzani Pires?

O sequestrador cumpriu pena por sequestro, tentativa de homicídio e porte ilegal de arma.

*Noutra época, foi proibido pelo comando que a brigada entrasse na antiga “vila de tábua”, em São Borja, pois lá estavam escondido assaltantes de Banco que mataram PMs e tiroteavam com a Brigada. Naquela comunidade 95% eram de pessoas trabalhadoras e honestas, mas que estavam reféns de um grupo minoritário. Eu trabalhava na investigação, e combinei com o Cabo Dirceu Robalo que estava de Sargento Auxiliar, na noite, que iríamos entrar na vila e fazer uma operação de desarmamento.  Na noite, peguei minha pistola .380 e .45 , enchi os bolsos de bala, peguei um HT (rádio) e lá pelas 02hs da madrugada, o Cabo Robalo me levou de viatura por trás da vila. Combinamos e eu vim por dentro da vila, chegando numa esquina onde avistava um grupo de 20  fazendo festa no centro da vila. Avisei o Robalo e cheguei a uns trinta metros no escuro do grupo. Quando o Robalo e mais duas viaturas entraram na frente da vila, o grupo começou a correr para o fundo da vila, quando eu barrei gritando “é a policia deita... é a policia deita...deita....dita” e eles foram ditando no chão sem saber de onde vinha os gritos...pois eu estava deitado no escuro. Nesse meio tempo A patrulhas comandanda pelo Robalo entraram correndo na quadra e quase atropelaram o bando todo deitado. Houve revista e uma limpa das armas deles.
A partir dali, o estado assumiu a então “terrível vila de tábuas”!  
Numa ocorrência eu e o ten. Adilomar que na época trabalhava em Uruguaiana.......lembra  Adilomar? Foi feio não.....saímos pelo furo da fechadura heheheh!
(hoje Adilomar é Tem. Coronel da PM, concorreu a prefeito de São Gabriel, e companheiro do PT. Adilomar comanda a defesa civil em Santa Maria-RS),
Quando eu estudava para ser piloto, trabalhava nas motos da Brigada. Neste época, a Brigada tinha 5 aviões e necessitava de no mínimo 10 pilotos, mas tinha somente 3. Em São Borja, eu estudava para a prova teórica no Aeroclube, junto eu tinha como colega o subcomandante da BM local, o ten. PM Sérgio Eudócio e o um capitão do exército. A brigada tinha selecionado em Porto Alegre 40 oficiais para estudar também. Estes oficiais não tiravam serviço, sua função era só estudar. Diferente do que eu fazia que era estudar e cumprir escala.
A prova para todo este grupo era no DAC (5º COMAR em Canoas). Fizemos a prova e destes todos, somente eu passei. Os oficiais, que rodaram, foram então estudar com tudo pago pelo estado, em escola de São Paulo. Passei no teórico e comecei o prático. Alguns meses após estava checado e habilitado para voar. Cheguei em Porto Alegre para tentar uma vaga no grupamento aéreo da Brigada, pois não tinham pilotos para voar (os 40 oficiais estudando, tinham rodado na prova teórica e estavam estudando em São Paulo). Lá no grupamento fui recebido, pelo cap. ou ten. Stocker (não sei se é este o nome certo e se é assim que se escreve). Este oficial me disse que aviões da Brigada eu não poderia voar, pois esta atribuição era somente de oficiais. Fui de volta para São Borja. Onde voava para a Polícia Federal em operações no estado, e na região, fazendo policiamento de fronteira com os aviões do aeroclube de São Borja. Meu companheiro de voo na região era o piloto civil e meu amigo Jarbas Landarin.

*Numa certa vez, houve um assalto a uma leiteria no interior do município e próximo a cidade de São Borja. Chegamos lá pela meia-noite. Avaliamos e resolvemos seguir os rastos e as cercas cartadas, na tentativa de alcançar os ladrões assaltantes. O CB ladir, Eraldo, Felipe, Freitas, Baicão e eu seguimos por  dentro de banhados, campos e matos,....quando estava clareando o dia entramos na cidade....pela vila Umbu. Continuamos segundo a trilha de sangue e outras deixadas pelos abigeatários que levam 4 ou 5 vacas de leite carneadas. Chegamos no centro da vila cabeleira. Numa casa de um já conhecido abigeatários. O terreno era cercado por uma tela de três metros e o portão estava cadeado. Lá dentro estavam uns 8 a 10 abigeatários/assaltantes. Eu estava com uma metralhadora Bereta. Na época eu era leve e ágil, e pulei a cerca sem problemas, entrei no galpão onde estavam o grupo de ladrões e a carne das vacas que estavam em cima de uma mesa. Dei voz de prisão e fiz eles deitarem. Quando olho para trás...os guris não tinham conseguido pular a cerca.....foi feio mas não perdi o impulso de ter ganhado a “mão”. levei todos para fora no “grito” e no “bico da metrelhadora”. Fiz um deles abrir o portão para os colegas entrarem....depois ríamos muito........virou piada a situação.

*Noutra vez, eu e o Sd Aparício Martins Dinat estávamos numa “campana”  na entrada da cidade. Quando vinham dois meliantes lá pelas 3 da manhã, na entrada da cidade,  perto do estádio Vicente Goulart, de bicicleta carregada de carne e cada um com uma “flobé” no guidon...nós conversamos e dividimos: “eu fico com o da direita” o Dinat “eu fico com o da esquerda” e quando passaram, saltamos do escuro ...eu dei um chute no ladrão que estava em cima da bicicleta e o derrubei, quando ele caiu a bicicleta que vinha carregada de carne no bagageiro empinou e me pegou pela perna , me derrubando. O ladrão só virou a “flobé”  e apertou...foi o tempo de me virar e ouvi o disparo na minha direção, quase encostada no meu corpo, ele errou o tiro e eu comecei a atirar e me joguei na sarjeta e no escuro .. no escuro também ficaram os ladrões. Tudo ficou silêncio. Eu num valo do lado da estrada e o Dinat do outro lado. De repente lá na frente, uns 50 metros, surgiu um deles, que parou no meio da estrada e gritava “ negro ele tá no valo atira negro no valo...ele tá no valo atira...atira” foi quando saquei a .45 e dei dois balaços na direção do ladrão que gritava. Este entrou num mato de unha-de-gato que nem assombração passava, mas ele passou...nós voltamos ao valo e ao escuro, onde chamamos reforço....

*Estava eu de motorista do auxiliar que era o sargento Lemos. Lá pelas tantas fomos comunicados que havia um tiroteio na boate “lanterna verde” ou coisa parecida, no centro da cidade. Lá chegamos, e havia alguns baleados, ao qual providenciamos o socorro e de imediato saímos atrás dos que haviam feito os disparos. Eram uns 6 que estavam numa Caravam e tinham ido em direção ao passo.
Na antiga rua dos trilhos, nos deparamos com a dita Caravam, que fugiu em alta velocidade e um dos tripulantes da carona começou a atirar contra nós na viatura. Eu acelerei a viatura, uma camioneta de prefixo 1519 que dirigia e começamos a perseguição. A rua era estreita e não conseguia chegar próximo, até que cheguei na lateral traseira, quando olhei o sargento Lemos engatilhou a metralhadora bereta e levou contra a Caravam. Olhei para dentro da Caravam e vi que ela estava cheia de guris, e gritei “não atira” e freei a viatura. O Lemos que já com a MT engatilhada não teve tempo de parar e acionou o gatilho, dando uma “rajada” que furou toda a parte de trás da Caravam....se eu não faço isso, a rajada pegaria uns 4 guris pelas costas, que estavam de Carona.
Mais a frente, o motorista errou a curva e eu “acavalei” a viatura na Caravam, fazendo caírem num valo onde efetuamos a prisão dos responsáveis e suas armas!
Hoje o Lemos esta aposentado, mas poderia não estar enrolado......

*Tem a ocorrência que nós prendemos um monte de Gendarmes e policiais argentinos na costa do Brasil.....


*Outra ocorrência que lembro, foi quando eu e o hoje Sgt. Patrício fomos atender ocorrência de homicídios, e encontramos três mortos, sendo que ao pular um muro, o Patrício caiu com os dois pés em cima de um cadáver...se não fosse triste era como ......

*Quando chegamos à São Borja, logo após a formatura PM, saímos a noite, onde fomos de baile em baile, , eu e o hoje Sgt. Barcelos, que comanda a Brigada de Garruchos, quando chegamos no “bailão do Gordo”, estava eu lá dentro dançando quando deu uma briga com o Barcelos...fui para fora e chegando lá, o Barcellos estava caído com uns 10 batendo....cheguei com a única arma que tinha..uma faca e aí...foi uma guerra...acabei por socorrer o Barcellos e tive de brigar feio...acabei com os dedos todos picoteados a pontaços de “daga e facão”...mas.....

*Outro fato foi no final de baile do estádio gen. Vargas, quando eu e o Sd. Viero, (hoje sargento), fomos atender ocorrência de uma verdadeira guerra campal. Chegamos e abordamos um grupo...tive de dar um tiro para cima, para “esparramar” o bando. Só que no meio, um deles meio “bêbado” revolveu, armado de facão, investir contra mim.....para não dar um tiro no dito ...guardei o revólver e saquei o bastão.......quando ele “tastaviou” dei um “bordoada” na mão dele para arrancar o facão, quebrando o dedo do dito, que ficou com o dedo “polegar” colado no braço e gritando sem parar. Acabou na DP.

* Numa patrulha, andando de bicicleta em dupla, estava eu e outro PM na rua próximo ao passo. Numa esquina,  lá pelas 4hs da manhã, vinha uns 6 ladrões repontando umas 6 a 8 vacas de leite. Meu colega disse “deixa são seis, e nós só dois”..eu disse, que tinha entrado para a brigada e não poderia deixar aquilo passar. E gritei aos ladrões “é a policia ..mãos ao alto”...foi só terminar,  e começou o tiroteio...os ladrões começaram um tiroteio contra mim (pois o colega estava dentro de um valo)...eu corri e fiquei no meio de um campo ao lado da promorar I, e os ladrões entraram num terreno frente a promorar, de lá escorados protegidos em árvores disparam contra mim flobés, revólveres e armas de cartuchos...eu coberto pela escuridão, dava dois ou três tiros e rolava para alguns metros ao lado. Após alguns minutos, o tiroteio cessa e as vacas passaram para outra rua correndo. Como eu tinha dado uns 15 tiros de .38 e tinha que justificar com as provas: “as vacas”. Saí correndo para tentar segurar as vacas, frutos do roubo. Quando saio no outro lado da quadra, me topo novamente com os ladrões e foi bala para todo o lado. Um deles, teve o cabo de plástico de flobé “rasgada” por um tiro meu (imagine se o tiro pega a 10 centímetros para dentro, dava no meio do peito). As vacas continuaram na disparada e foram de volta para o estábulo na casa da proprietária. A casa era da mãe do hoje sargento da Brigada Ari Avelino Gonçalves (que na época não era da BM). Eu cheguei na casa e acordei a D. Erci, a qual relatei o acontecido. Ela prendeu as vacas no galpão.
Após isso, corri de volta para tentar achar o colega. Encontrei-o carregando as bicicletas que estávamos andando. Estava bem, e com todos os tiros intactos.
O quartilheiro do esquadrão era o Soldado Adelmo Nene Caetano (hoje tenente na inatividade e atuando no CVMI). O Cabo de dia deu parte por eu ter “gasto todas as bala do GPM do Passo”....tive de pagar as balas....



Quando eu lembrar de mais fatos e histórias, volto a relatar aqui. Se os amigos e colegas LEMBRAREM, ME ENVIEM, que eu publico.
Elvio Freitas Do Amaral
Bueno amigo, lembro que no Itaqui varias fazendas estavam sendo assaltadas e os meliantes se escondiam na ilha quadrada, um pedaço de terra de 6x6 km no rio Uruguai, lembro que eu e tu viajávamos dentro do barco, guarnição composta pelo Cb. Ladir Eraldo Miranda Filipe Rene e Freitas, tivemos que fazer a a travessia e subir a barranca que não era baixa as 03 da madrugada e prender os meliantes no ninho, fomos nós os presos embarcado até o Porto de Itaqui, e posterior DP.