segunda-feira, 20 de junho de 2011

Meta: Desqualificar a CORSAN, Privatizar, enganar a população, cooptar petistas, cobrar a fatura e entregar o produto (saneamento)

Com falsas verdades, a administração municipal continua tentando justificar a privatização da água em São Borja.

Importante salientar, que esta “sede privatista”, não é uma fatalidade, mas uma política de governo, articulada no seio da coligação que elegeu o atual prefeito.
Para tanto, o Governo municipal, possui o PSDB e PPS como núcleo duro do poder e tem como líder de governo na Câmara, Geovane Contreira, Vereador do PPS.
Neste último período o Prefeito criou uma frente para tentar cooptar o PT para compor a coligação. Para isso tenta dizer que a questão da retirada da CORSAN do município, é “coisa do passado”, não é “bem entendida”, que é “questão de justiça” e não política, que o PT nem os petistas não devem “temer compor seu governo” etc...
Esta questão de privatizar o saneamento em São Borja (tirando a CORSAN e entregando a iniciativa privada) é sim uma questão política. È meta do governo municipal e atuação obrigatória e incansável de todos seus membros, visando este objetivo.
A realidade é dura, e não deixa dúvidas. Basta olhar a matéria abaixo:
Na Zero Hora de domingo dia 19 de junho, na página 27 fica bem claro, qual é a intenção da administração: Privatizar!

Zero Hora de domingo dia 19 de junho, na página 27 

“A GESTÃO DA ÁGUA

Corsan pode perder 1 milhão de usuários

Por que abandonar a Corsan?

SÃO LUIZ GONZAGA Em busca de menor preço e maior qualidade no saneamento de água, o prefeito de São Luiz Gonzaga, Vicente Diel, aguarda que a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) analise o edital para que o pedido de concessão seja avaliado pelo TCE:– O gargalo na questão está no fato de que a Corsan arrecada em nosso município e investe em outras cidades.A população paga o mesmo valor pelo serviço sem a qualidade necessária.Para o prefeito, quem ganhar a licitação deverá prestar um melhor serviço com menor preço.– Tudo se encaminha para a privatização. Com outra prestadora de serviços, ou até mesmo com a Corsan, caso ela participe, haverá maior dedicação com as questões básicas como o esgoto.

SÃO BORJA O secretário de Planejamento, Léo Tatsch, espera encaminhar em breve ao TCE o edital que pode passar à iniciativa privada os serviços de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto. Segundo o secretário, há 10 anos a Corsan não investe na cidade.– Aqui a Corsan tem receita liquida de R$ 600 mil, mas só temos 12% de esgoto canalizado.

SANTA CRUZ DO SUL As constantes reclamações sobre falta de água e buracos abertos na cidade foram os principais motivos que levaram o município de Santa Cruz do Sul a abrir uma licitação para prestação dos serviços de água e esgoto.– Como a rede é antiga, é preciso abrir a todo momento para fazer a manutenção, e acaba gerando esse tipo de problema – explica o procurador-geral do município, Luciano Almeida.Os dados do município apontam que, de toda água tratada no município, 58% se perde devido a problemas na rede. O saneamento básico é outro ponto questionado. Apenas 7% do esgoto é tratado atualmente na cidade.No edital, a prefeitura fez exigências, entre elas o aumento de investimento na rede de água e esgoto.”


CONSIDERAÇÕES:

CONTRARIANDO A INFORMAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO, ESTA É A VERDADE:

1- Sobre Obras da CORSAN no município:

1.       ESTAÇÃO DE CAPTAÇÃO DE AGUA JUNTO AO RIO URUGUAI.
 ( Edificação, Engenharia e  Operação Automatizado considerado um dos mais Moderno do Estado)
INAUGURADO  09/09/2004.
VALOR DE AVALIAÇÃO R$ 5.970.000, (  Cfe. avaliação ENGEBÊ  - Empresa Brasileira de Engenharia Econômica em 18/02/2011).

2.        INTERLIGAÇÃO DO EMISSÁRIO DE ESGOTO  RUA CAMPO OSÓRIO COM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO NA RUA PAROBÉ.
OBRA REALIZADA EM 02/02/2005.
COM EXTENSÃO DE 600 m.
VALOR INVESTIDO R$ 600.000,00

3.         OUTRAS OBRAS:

Rede de água em toda extensão da Theobaldo P. Klaus, Vila Kilka, Vila Marrocos, e nas Vilas Leonel Brizola e Mario R. Weis. Troca de tubulação na rua Cabo Pedroso e Venâncio Aires, entre tantas outras obras.

2- Sobre os 12% do esgoto canalizado no município:

Veja na página 34, do estudo da própria Prefeitura abaixo:

“ Com relação à instalação sanitária, os dados oficiais informavam que a forma
predominante era a fossa rudimentar, utilizada em 37,4% dos municípios em 2000, como
mostra a Tabela 16.

Tabela 16 - Proporção de moradores por tipo de instalação sanitária no município no período 1991/2000

Instalação Sanitária                          1991                          2000
Rede geral de esgoto ou pluvial         13,02                         27,0
Fossa séptica                                    50,73                          30,9
Fossa rudimendar                             32,88                         37,4  
Vala                                                    0,68                          1,7
Rio, lago ou mar -                              -                               0,0
Outro escoadouro                              0,01                          0,8
Não sabe o tipo de escoadouro          0,04                             -
Não tem instalação sanitária             2,65                           2,2
Fonte: Brasil (2006).
Na visita domiciliar, contudo, constatou-se que 48,5% dos domicílios são contemplados pela rede geral de esgoto e 50,5% possuem fossa séptica.”

DIAGNÓSTICO LOCAL DE SAÚDE
São Borja

Responsáveis pelo Projeto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
Escola de Administração.

Equipe de Trabalho:
Márcia Hentschke
Annelise Barreto Krause
Rachel Fontoura
Luciano Vieira
Neide Ana Spinato
Suzane de Mendonça e Silva
Sabrina Letícia Couto da Silva
Rafael Kruter Flores
Jéferson Miola
Coordenação: Profa. Dra. Maria Ceci Araújo Misoczky

Responsáveis pelo Projeto no Município
Prefeito Municipal: Mariovane Gottfried Weis
Secretário Municipal de Saúde (período da pesquisa): Ana Cristina Cadó Lul
Secretário Municipal de Saúde: Paulo Alcindo Trindade Davida
Coordenadoras do SIS no município: Dílson Weber
Assessoria Técnica: Traudi Eloiza Figur, Claudia Marli Rabuske

Sobre o percentual de rede de esgoto, existem dois percentuais divulgados pela prefeitura. Um usado pela administração para desqualificar a CORSAN, onde diz que somente 12% do esgoto é canalizado (não se sabe, a origem da informação). Outro presumivelmente pago pela verba pública, e realizado por órgãos sérios (UFRGS, Escola de Adm. da UFRGS e Sistema Integrado de Saúde de Fronteiras-SISF), afirma que em 1991 era 12% e em 2000 chegou a 27% o percentual de “Rede Geral de Esgoto ou Pluvial”.
Este último dado depõe contra as "intenções privatistas" da administração, e desta forma, é “escondido” do debate e da opinião pública de São Borja.

Onde esta a verdade? A quem interessa estes movimentos? Quem está ganhando? Quanto estão ganhando?

O tempo dirá!

Renê Ribeiro
Vice-Presidente do PT de São Borja

domingo, 19 de junho de 2011

GUERRILHA DO ARAGUAIA - Um começo de Justiça!

A dívida histórica com os mortos e desaparecidos políticos

 

O Estado brasileiro publicou hoje no Diário Oficial da União e no jornal O Globo a sentença do Brasil no caso Julia Gomes Lund e outros. Trata-se da Guerrilha do Araguaia, episódio que marcou a história política brasileira e uma geração de homens e mulheres que nos antecederam e lutaram pela democracia. 
Publicar o resumo dessa sentença é parte do cumprimento do Estado brasileiro em relação ao que foi decidido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
Dentre os aspectos emblemáticos da sentença destaca-se a necessidade de continuar as buscas para identificar e entregar os restos mortais dos desaparecidos políticos aos seus familiares; oferecer tratamento médico, psicológico e psiquiátrico para as vítimas que requeiram e, sistematizar as informações sobre a Guerrilha e demais violações ocorridas durante o regime militar no Brasil.
A divulgação da sentença renova o compromisso do Estado brasileiro em elucidar os fatos da Guerrilha. Isso só é possível porque essa chama se manteve acesa na história devido ao esforço inesgotável dos familiares de mortos e desaparecidos políticos que levaram essa luta ao longo das últimas décadas. Essas famílias não realizaram até hoje o ritual de despedida e, por isso, não exerceram o direito milenar de velar seus entes queridos, uma forma encontrada pela humanidade para absorver a perda junto aqueles que se solidarizam com a nossa dor.
Situações como essas comprovam o quão importante é a união da sociedade para que o Congresso Nacional aprove a Comissão da Verdade (Projeto de Lei 7376/2010), pois cumprir essa decisão da Corte significa, para além de demonstrar a necessidade de assegurar o direito à memória e reparar, a possibilidade de dar as futuras gerações a responsabilidade de prevenir práticas similares.

Acesse a integra aqui: http://www.direitoshumanos.gov.br/sobre/sistemasint/lund.pdf

domingo, 12 de junho de 2011

Tarso Genro e o caso Battisti: “Itália tratou o Brasil como uma colônia”

Responsável pela concessão do refúgio político ao ex-ativista italiano Césare Battisti, o governador Tarso Genro comentou com o jornalista André Machado, do site Esquina Democrática, a decisão do STF. Tarso era ministro da Justiça do governo Lula quando houve o pedido de extradição. Além de comemorar a decisão do Supremo Tribunal Federal, o governador fez críticas ao governo italiano.
Confira a entrevista:

ESQUINA DEMOCRÁTICA – Como a decisão do STF sobre Cesare Battisti se relaciona com a sua decisão como ministro da Justiça de haver concedido refúgio político ao ex-ativista italiano?

TARSO GENRO – O pedido de extradição do Battisti foi um ato de arrogância do governo italiano em uma situação de decadência reconhecida internacionalmente. Atitude que ele nunca tomou quando o Battisti foi considerado refugiado político na França durante mais de dez anos. Este pedido feito pelo governo italiano cai nas mãos do ministro da Justiça que decide conceder o refúgio pelo fato dele ser um criminoso político. Os crimes que ele cometeu estavam na ordem da criminalidade política que permite a concessão do refúgio. Naquele momento o Supremo Tribunal Federal deveria ter interrompido o processo de extradição e liberado o Battisti como ocorreu com outros diversos italianos na mesma situação no Brasil.

ESQUINA DEMOCRÁTICA – …no momento em que o senhor como ministro da Justiça concedeu o refúgio político?

TARSO GENRO – Exatamente. A lei é clara. Ela diz que a concessão do refúgio por parte do ministro da Justiça equivale a uma decisão soberana do Presidente da República. Ele age por delegação do presidente. Mas o STF entendeu naquele momento que não deveria libera-lo na oportunidade e julgou – avaliando o pedido de extradição – que o Battisti deveria ser extraditado por que o seu delito não seria de natureza política, contrariando decisões anteriores sobre outras pessoas nas mesmas circunstâncias.

ESQUINA DEMOCRÁTICA – O senhor já leu o processo mais de uma vez. O senhor segue convencido de que o crime de Battisti foi meramente um crime político?

TARSO GENRO – Não sou eu que digo. Dentro do processo tem uma declaração do ex-ministro italiano da Justiça na época, Francesco Cossiga, que diz exatamente isto. Que ele era um criminoso político que queria instaurar uma ditadura de esquerda na Itália. Acusações que são muito semelhantes a algumas acusações que foram feitas também no Brasil na época do regime militar. Eu não entro sequer no mérito da razão, a persecução que o estado italiano fez naquele momento às pessoas que alçaram em armas foi justa e adequada. O estado reagiu como deveria ter reagido. Só que o fato do estado ter agido de maneira adequada e de acordo com as suas leis não quer dizer que aqueles rapazes que eram delinqüentes políticos na época não devam ser considerados criminosos políticos. Foi um ato de arrogância do governo italiano que quis tratar o Brasil como uma colônia, debochou do nosso sistema judiciário, ofendeu a um ministro do Supremo como se o Brasil fosse um país de segunda categoria. Então esta decisão do STF que devolve ao presidente da República a decisão foi uma decisão correta, equilibrada e digna de um tribunal de um país maduro e que tem um estado de direito a ser preservado.

ESQUINA DEMOCRÁTICA – Esta decisão que coloca Césare Battisti agora em liberdade no Brasil afeta de alguma maneira as relações com a Comunidade Européia em geral e com a Itália em particular?

TARSO GENRO – Em absoluto, inclusive os próprios estados europeus na oportunidade em que ocorreram estas violências concederam refúgios a pessoas que estavam nesta situação. Como a França que não pode ser acusada de não ser um estado de direito. A Espanha abrigou também refugiados políticos de outros países que se alçaram em armas, inclusive na América Latina.O Brasil é um exemplo de concessão de refúgio. Concedemos refúgio para um terrorista de extrema direita como o general (George) Bidault que tentou matar o De Gaulle (ex-presidente da França). O Brasil tem uma tradição de acolhimento. Acolheu o Stroessner (ex-presidente do Paraguai) como criminoso político e reconhecido como um ditador nefasto internacionalmente. Quando um país concede um refúgio – e foi este o meu despacho – o país não está avalizando o que foi feito. Está apenas dizendo que se inscreve nas normas internacionais de proteção ao refúgio.

ESQUINA DEMOCRÁTICA – O senhor tem uma opinião pessoal sobre se Battisti tinha ou não razão nos atos que cometeu?

TARSO GENRO – O Battisti se insurgiu, juntamente com centenas e milhares de jovens na Itália naquela oportunidade, de uma forma completamente equivocada. Como vários que cometeram atos de violência naquela oportunidade. Isto, de outra parte, não justifica que o próprio estado italiano tenha violado a sua legalidade. Colocou o serviço secreto da OTAN a combater as pessoas que estavam fazendo ações subversivas contra a democracia naquela época. Então houve uma violação recíproca do direito. Do estado italiano que se socorreu do serviço secreto da OTAN – e tem denúncias na Anistia Internacional de torturas que foram cometidas naquela época nos porões da própria democracia – o que obviamente não justifica o que as pessoas fizeram, mas também não justifica que o Battisti e os outros sejam tratados como criminosos comuns.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Caso Battisti: Tarso critica os italianos

Há mais de 250 anos, em 7 de fevereiro, morria Sepé Tiaraju, líder da resistência dos índios guarani-missioneira à implementação do Tratado de Madri em terras do hoje Rio Grande do Sul. Sepé cunhou o grito "Co ivi oguereco iara",  esta terra tem dono!

 VOLTAMOS A TEMA CESARE...

Caso Battisti: Tarso critica os italianos

O governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça Tarso Genro (PT) rebateu as críticas que algumas autoridades de Roma têm feito ao Brasil pela concessão de refúgio político ao ativista Cesare Battisti afirmando que elas refletem a posição do governo atual e não do Estado italiano.

“As posições que os governantes italianos assumiram é uma posição colonialista e até neofascista, ofenderam a Constituição do País, ofenderam os ministros do Brasil, dizendo que o Brasil é mais conhecido por ter dançarinas do que juristas, coisa que eles não fizeram quando a França tomou a mesma posição”, afirmou Tarso, em Madrid.

Para Tarso, a concessão do refúgio, pelo Brasil, é um ato soberano, que não tem a menor possibilidade de ser revertido em tribunais internacionais, como o governo italiano anunciou que vai tentar. O governador entende que o País não deve entrar em qualquer bate-boca com a Itália. “O que eles estão tentando é transformar uma crise interna de governo que eles têm há muito tempo, num problema internacional. (Diário do Pará/Porto Alegre/AE )

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Para Olívio, PT não pode se acomodar ao jogo político

''O PT não surgiu nos gabinetes de Executivo e Legislativo. O partido veio de baixo para cima''
O diretório estadual do PT definiu Olívio Dutra como presidente de honra do partido no Rio Grande do Sul. Fundador da legenda, o petista propõe, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, que o PT discuta internamente seu papel na política para não se acomodar por estar hoje ocupando gabinetes do Executivo e do Legislativo. “O PT surgiu na luta por condições de vida digna para a população trabalhadora e uma partilha justa das riquezas do País. Não pode, de repente, passar a ser um partido da acomodação, da conciliação permanente, que aceita o jogo político do toma lá, dá cá.” Olívio, que completa 70 anos no final desta semana, também avalia as gestões do governador Tarso Genro (PT) e da presidente Dilma Rousseff (PT). E lembra, ainda, sua trajetória política, relatando episódios de sua formação no sindicato, na Igreja e no movimento estudantil.

Jornal do Comércio - Como o senhor avalia o surgimento do PT e o partido hoje?
Olívio Dutra -
No final da década de 1970 foi surgindo a ideia de um partido ligado ao movimento sindical. Não só da classe operária, mas da classe trabalhadora. Também como uma crítica aos partidos tradicionais. Essa foi a ideia do Partido dos Trabalhadores. Por isso digo hoje: o PT não é um partido que surgiu de cima para baixo, dentro de gabinetes do Legislativo e do Executivo. O PT veio de baixo para cima, é um partido que surgiu de uma parte considerável dos movimentos sociais, na luta contra a ditadura militar, na luta por condições de vida digna para a população trabalhadora e uma partilha justa das riquezas do País. O PT não pode, de repente, passar a ser um partido da acomodação, da conciliação permanente, que aceita o jogo político do toma lá, dá cá.

JC - Mas chegou ao poder...
Olívio -
O PT foi conquistando espaços na institucionalidade - o que é importante, pleiteamos a democracia. Mas não meramente a democracia formal; tem que estar enraizada na prática, para qualificar a vida das pessoas. O PT não pode ser um partido, digamos, que perca a sua rebeldia.

JC - E é possível isso estando nos governos?
Olívio -
É essa a questão. Por isso, o PT tem que ter instâncias que possibilitem um debate constante sobre as consequências de um partido que surge não dos gabinetes, de repente, ter que estar ocupando os gabinetes legislativos e executivos. É preciso discutir no que isso resulta.

JC - Em que aspecto?
Olívio -
O governo do presidente Lula (PT), nos seus dois mandatos, e agora o governo da presidente Dilma, o Tarso aqui no Rio Grande do Sul, isso representa uma nova conjuntura, que se abriu por conta da conquista popular, democrática. Mas o Estado brasileiro ainda está com a sua formatação, que o faz funcionar muito bem para poucos. Ou não funcionar para muitos. Então, apesar de tudo o que pôde ser feito no governo Lula, nos nossos governos aqui no Rio Grande - me orgulho de ter sido governador -, ainda assim tem estruturas que não foram mexidas.

JC - Quais?
Olívio -
O fato de Lula ter incluído milhões de brasileiros em uma renda melhor, condições de vida, salário e educação melhores, ter tido uma relação política aberta, uma política externa soberana, sem arrogância, mas afirmativa... Tudo isso são conquistas que não podemos perder. Mas isso é pouco diante de uma realidade que coloca, por exemplo, 16 milhões de brasileiros vivendo com uma renda diária de R$ 2,30. Eu voltei à universidade e pego dois ônibus para ir e dois para voltar da Ufrgs. Isso dá um gasto de R$ 10,80. Então, imagina uma pessoa sustentar a sua família com R$ 2,30? E são 16 milhões de brasileiros nessa situação. O governo deve trabalhar para a maioria da população. Tem um domínio aristocrático que controla a máquina brasileira há 510 anos. Em qualquer mandato que o PT exercer tem que estar a semente da transformação, e não da acomodação. Essa é a grande questão para o nosso partido.

JC - Qual é a sua avaliação dos governos Dilma e Tarso?
Olívio -
São governos que tocam adiante um esforço. O governador Tarso está indo bem. Dilma também. Mas tem a conjuntura... Precisamos de reformas como a agrária, que não se conseguiu fazer avançar. E o acesso à terra, de forma democratizada, é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do País. Precisamos da reforma político-partidária, em que partidos tenham posições ideológicas claras e que não sejam balcões de negócio. E o Estado brasileiro não é propriedade do governante, deste ou daquele partido que está exercendo o poder. Nem de grupos econômicos poderosos. O Estado tem que ser democratizado e estar sob controle público.

JC - A conjuntura atual é mais favorável a isso?
Olívio -
Bem mais favorável. Até porque o discurso do Estado mínimo, dos neoliberais, está desgastado por conta da crise financeira internacional. Os países do capitalismo central tiveram que recorrer ao socorro do Estado. E é a sociedade que tem que controlar o Estado e não o contrário. Um partido sério, quando exerce governos ou mandatos, deve buscar avançar nisso. O PT é o maior partido do campo democrático-popular, a esquerda brasileira, mas não o único. Há partidos de origem mais antiga e também franjas em outros partidos de centro-esquerda, que não são cabresteadas pelos figurões dessas legendas. Então, há a possibilidade de uma discussão qualificada de como esse campo pode se alternar em cabeças de chapa para disputas locais.

JC - Isso vale para 2012?
Olívio -
Sou a favor da alternância, para esse campo formar - através da boa discussão em cima de temas como o papel do Estado - o desenvolvimento, a ideia de que a política é a construção do bem comum através do protagonismo das pessoas, que devem ser sujeito e não objeto da política. São ideias fundamentais para a gente encarar as próximas eleições.

JC - Tarso formou uma boa base (PT, PSB, PCdoB, PDT, PTB, PRB e PR). Essa coalizão é o principal mérito do governador?
Olívio -
Acho que isso não é mérito pessoal, é uma conjuntura que vai desabrochando. E tem riscos. O governo Lula, com sua composição, não conseguiu fazer a reforma política nem a tributária, nem a reforma agrária nem a urbana. Um governo de composição ampla acaba não podendo fazer e empurra adiante. Tem um conforto, mas ao mesmo tempo engessa. É uma contradição permanente. A questão da governabilidade tem também coisas que não se pode fazer. Mas não se pode conformar com o pragmatismo político...

JC - A propósito de ideais na política, como foi seu início?
Olívio -
Meu pai, carpinteiro, criou cinco filhos. Então, a consciência de que existe uma realidade a ser transformada vem de muito tempo. Jovem, militei na Igreja Católica. Tinha uns 15, 16 anos. A gente discutia a questão da desigualdade, da solidariedade, da caridade, do trabalho voluntário. Daí, vim a Porto Alegre com 18 anos incompletos, consegui vaga para trabalhar, mas faltou a carteira de reservista. Então, tive que voltar a São Luiz Gonzaga. E prestei lá o serviço militar.

JC - Teve atuação no movimento estudantil?
Olívio -
Cheguei a ser presidente da União Saoluizense de Estudantes. Era uma entidade em que estudantes de famílias abonadas promoviam festas, bailes... Montamos uma chapa para discutir a ausência de escola pública depois do Ginásio. Ganhamos a eleição. Tinha 16 ou 17 anos. Na Igreja, havia uma campanha nacional por educandários gratuitos. E fiz parte do movimento em São Luiz Gonzaga, por uma escola pública de 2º Grau (Ensino Médio).

JC - E a vida sindical?
Olívio -
Em 1961, fiz concurso para o Banrisul. Tinha 19 jovens disputando a vaga de contínuo... Entrei, fiquei três anos na função e fiz concurso interno para ser escriturário. Participei da minha primeira greve em 1962. Não tinha sindicato em São Luiz Gonzaga, mas foram até lá. Como fazia o trabalho de rua, fiquei encarregado de reunir o povo na Casa Rural. E se decidiu que os bancários de São Luiz Gonzaga entrariam em greve. Era uma luta salarial. Mas no segundo dia a greve acabou. E fiquei me perguntando: para entrar em greve teve reunião. Agora, para sair, ninguém nos consultou.

JC - E como o senhor veio para Porto Alegre?
Olívio -
Eu continuava no movimento para ter aquela escola. Mas o clima político estava se fechando por conta da ditadura. O prefeito era primo do Jango, mas militava na Arena. E, uma vez que a escola fosse instalada, nós, os jovens, queríamos que a direção fosse eleita. Tive a petulância de escrever essas coisas no jornal. O prefeito não gostou e toda a estrutura de poder local funcionou para que eu fosse transferido ou perdesse o emprego. Mas eu era funcionário concursado do banco. Então, fui transferido para Porto Alegre.

JC - Por querer eleições...
Olívio -
Meus pais eram eleitores do PTB, tinham retrato do Getúlio. Mas um tio, irmão da minha mãe, dizia: “Olha, tem muito rico no PTB também. Temos que pensar com a nossa cabeça para não ser massa de manobra.” Esse tio, Pedro Beis, em 1954 - Getúlio em crise, iria se suicidar em seguida - foi pego numa madrugada colando cartazes com críticas que só quem fazia era o Partidão (Partido Comunista Brasileiro). E foi preso. Aí, nos revezamos mandando uma viandinha para o tio Pedro na cadeia. Eu tinha 13 anos, fui em várias ocasiões. Até que ele foi solto graças a um advogado do Partidão. Com a pecha de comunista numa cidadezinha, meu tio veio a Porto Alegre.

JC - Também a contragosto.
Olívio -
Conto essa história porque em 1979 fui preso na nossa greve dos bancários, fiquei 14 dias na Polícia Federal. E um dia chegou uma visita: Pedro Beis. Fazia muito tempo que eu não via o tio Pedro. Cheguei na salinha e lá estava ele com uma carteirinha de cigarro. E disse: “Olha, meu sobrinho, vim aqui retribuir porque, quando eu estive preso 25 anos atrás, tu me levavas uma viandinha lá na cadeia.” E eu: “Muito obrigado, tio Pedro. O caso é que eu não fumo. Mas fico muito grato pelo gesto”.

JC - E o seu ingresso no Sindicato dos Bancários?
Olívio -
Cheguei em 1970, me colocaram na agência mais periférica de Porto Alegre na avenida Francisco Trein com a Assis Brasil. E logo me filiei ao sindicato. Era temerário, tinha dois bancários presos pelo regime. Fizemos reuniões e um texto que denunciava a situação. Ninguém assinou, claro. Queríamos que a categoria soubesse...

JC - Foi uma iniciativa sua?
Olívio -
Não. Isso foi o pessoal ligado às áreas de base da Igreja, de movimentos para proteger as pessoas perseguidas. Fizemos o texto e mandamos para todas as agências de banco. Lembro da chegada desse envelope na agência onde eu estava. O gerente me chamou. “Tem um problema aí com uns bancários. Tu és o cara que vai no sindicato, traz as informações” - o sindicato tinha um departamento odontológico e eu divulgava o serviço. “Então, Olívio, acho meio perigoso isso aí. Mas dá um jeito.” Bom, entreguei aos colegas. A informação circulou. Até que um dia chegou lá na agência o presidente do sindicato. E começou a me explicar a situação daqueles dois bancários. O sindicato tinha colocado advogado, mas os órgãos de repressão estavam em cima.

JC - E o ingresso na direção?
Olívio -
Outra vez o presidente veio à agência. “Tu tem ido nas assembleias e estão esvaziadas.” E me propôs que eu fosse para a executiva. Mas eu tinha feito vestibular para a Ufrgs. “Não quero dar o meu nome e depois não poder dar conta das reivindicações.” Aí, fiquei na quarta suplência. Quase no final desse mandato, quatro diretores deixaram de ser bancários. E fui convocado em 1974. Na divulgação, começamos a trabalhar com o pessoal da Coojornal; Santiago e Edgar Vasquez faziam charges. E a luta por liberdade e autonomia sindical nos possibilitou a relação com outras categorias. Em 1975, teve eleições e fui colocado na cabeça da chapa. Conheci o Lula nessa época. Fui reeleito no sindicato em 1978, e depois, cassado em 1979, na nossa greve dos bancários, a primeira grande greve de uma categoria do Rio Grande.

Perfil

Olívio de Oliveira Dutra completa 70 anos na sexta-feira. Formou-se em Letras pela Ufrgs, embora tenha trabalhado no Banrisul, após concurso, até se aposentar em 1996. Ganhou visibilidade como líder do Sindicato dos Bancários durante a ditadura militar. Foi preso ao liderar a primeira greve de trabalhadores bancários no Estado em 1979. Missioneiro de Bossoroca, sua trajetória política começou ainda na adolescência, no movimento estudantil em São Luiz Gonzaga. Sua primeira filiação se deu no Partido dos Trabalhadores, sigla da qual é um dos fundadores no Estado. Obteve a primeira vitória nas urnas em 1986, ao se eleger deputado federal constituinte pelo PT. No ano seguinte, assumiu a presidência nacional do partido. Sua eleição para a prefeitura de Porto Alegre, em 1988, marcou a chegada do PT ao comando da Capital. Sua gestão (1989-1992) foi destacada pela criação do Orçamento Participativo. Em 1998, Olívio foi eleito governador do Rio Grande do Sul. Não foi candidato à reeleição por ter sido derrotado nas prévias do partido por Tarso Genro, em 2002. Também disputou o Piratini em 1982, 1994 e 2006. Foi ministro das Cidades de Lula entre 2003 e 2005 e presidiu o PT gaúcho por seis mandatos desde a fundação da sigla - o último se encerrou em 2009.