segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Quando dólares falam mais alto

Engana-se quem pensa que já se conhecem todos os fatos relacionados com o golpe civil militar de 1964 que derrubou o Presidente constitucional João Goulart. 




Nos últimos meses, graças ao trabalho das Comissões da Verdade, sejam estaduais ou a Nacional, muito fato novo vem sendo divulgado. 
Mas um fato desta semana, protagonizado por João Vicente Goulart, ao ouvir uma denúncia do então Major do Exército Erimá Pinheiro Moreira, poderá mudar o entendimento de muita gente sobre a ocorrência  mais negativa da história recente brasileira. O alerta tem endereço certo, ou seja, aqueles que ainda imaginam terem os golpistas civis e militares agido por idealismo ou algo do gênero.
O Major farmacêutico em questão, hoje anistiado como Coronel, servia em São Paulo em 31 de março de 1964 sob as ordens do então comandante II Exército, General Amaury Kruel (foto).  Na manhã daquele dia, Kruel dizia em alto e bom som que resistiria aos golpistas, mas em pouco tempo mudou de posição. E qual foi o motivo de o general, que era amigo do Presidente Jango Goulart, ter mudado de posição assim tão de repente, não mais que de repente?
Mineiro de Alvinópolis, Erimá Moreira, hoje com 94 anos, e há muito com o fato ocorrido naquele dia trágico atravessado na garganta, decidiu contar em detalhes o que aconteceu. O militar, que era também proprietário de um laboratório farmacêutico e posteriormente convidado a assumir a direção de um hospital, foi procurado por Kruel no hospital. Naquele encontro, o general garantiu ao major que Jango não seria derrubado e que o II Exército garantiria a vida do Presidente da República.
Pois bem, as 2 da tarde Erimá foi procurado por um emissário de Kruel de nome Ascoli de Oliveira dizendo que o general queria se reunir com um pessoal fora das dependências do II Exército. Erimá indicou então o espaço do laboratório localizado na esquina da Avenida Aclimação, local que hoje é a sede de uma escola particular de São Paulo. Pouco tempo depois apareceu o próprio comandante do II Exército, que antes de se dirigir a uma sala onde receberia os visitantes pediu ao então major que aguardasse a chegada do grupo.
Erimá Moreira ficou aguardando até que apareceram quatro pessoas, um deles o presidente interino da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), de nome Raphael de Souza Noschese, este já conhecido do major. Três dos visitantes carregavam duas maletas grandes cada um. Erimá, por questão de segurança, porque temia que pudessem estar carregando explosivos ou armas, mandou abrir as maletas e viu uma grande quantidade de notas de dólares. Terminada a reunião foi pedida que a equipe do major levasse as maletas até o porta-malas do carro de Amaury Kruel, o que foi feito.
De manhã cedo, por volta das 6,30 da manhã, Erimá Moreira conta que mais ou menos uma hora e meia depois da chegada no laboratório ligou o rádio de pilha para ouvir o discurso do comandante do II Exército. Moreira disse que levou um susto quando ouviu Kruel dizer que se “o Presidente da República não demitisse os comunistas do governo ficaria ao lado da “revolução”.
Erimá Moreira então associou o que tinha acontecido no dia anterior com a mudança de postura do Kruel e falou para si mesmo: “pelo amor de Deus será que ajudei o Kruel a derrubar o Presidente da República?” 
Ainda ouvindo o discurso de Kruel, conta Erimá, chegaram uns praças para avisar que tinha uma reunião marcada com o general no QG do II Exército.
Na reunião, vários militares, alguns comandantes de unidades, eram perguntados se apoiavam Kruel. “Eu não aceitei e pedi para ser transferido”.
Indignado, Erimá Moreira dirigiu-se a um coronel do staff do comandante do II Exército para perguntar se o general Kruel não tinha recebido todo aquele dinheiro para garantir a vida do Presidente. “Me transfiram daqui, que com o Kruel no comando eu não fico”.
Aí então – prossegue Erimá Moreira – me colocaram de férias para eu esfriar a cabeça. Na volta das férias, depois de um mês, fiquei sabendo pelo jornal que o Kruel havia me cassado”.
A partir de então o Major e a família passaram maus momentos com os vizinhos dizendo à minha mulher que era casada com um comunista. “Naquela época, quem fosse preso ou cassado era considerado comunista”.
Algum tempo depois contei esta história que estou contando agora ao General Carlos Luis Guedes, meu amigo desde quando servimos em unidades militares em São João del Rey. Fiz um relatório por escrito e com firma reconhecida. O General Guedes tirou xerox e levou o relato para a mesa do Kruel. Em menos de 24 horas o Kruel pediu para ira para a Reserva. Fiquei sabendo que com o milhão de dólares que recebeu do governo dos Estados Unidos comprou duas fazendas na Bahia”.
Ao finalizar o relato, o hoje Coronel Erimá Moreira mostrou-se aliviado e ao ser perguntado se autorizava a divulgação desse depoimento, ele respondeu que “não tinha problema nenhum”.
Nesse sentido, sugerimos aos editores de todas as mídias que procurem o Coronel Erimá Pinheiro Moreira para ouvir dele próprio o que foi contado neste espaço. Sugerimos em especial aos editores de O Globo, periódico que recentemente fez uma autocrítica por ter apoiado o golpe de 64, que elaborem matéria com o militar que reside em São Paulo.
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  • 16 Comentários recebidos
·          Em 03/10/2013, Eliseu Leão escreveu:
Legal. Ouvimos sempre a estoria contada pelo caçador e raramente a contada pela caça. --- Faz muito tempo que está girando na internet a mail - ''Os cinco Generais Presidentes'' - relatando a ''pobreza'' deles: Castelo, apenas um apartamento em Ipanema e poucas ações de empresas públicas e privadas -- Costa e Silva bateu as botas deixando um apartamento em construção, em Copacabana -- Garrastazu Médice, dispunha, como herança de família, de uma fazenda de gado em Bagé -- Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência, comprou o sítio de Teresópolis -- Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do sítio em Petrópolis. Pensou em vende-lo e ficar com os cavalos pra não sentir o cheiro do Povo. Depois mudou de idéia. Vendeu primeiro os cavalos e depois o sítio, ficando com o apartamento de São Conrado. O autor desse relato quer lembrar aos eleitores ''palhaços'' que estes generais não enriqueceram no poder, ao contrário do Lula, que fez filme com dinheiro público exaltando a propria personalidade, comprou avião de luxo no exterior, saiu de Brasilia com 11 caminhões lotados com moveis e objetos roubados, etc, etc.
    • Em 03/10/2013, Eliseu Leão escreveu:
O Kruel era coronel mas já tinha talento -- A Escola Superior de Guerra (criada em 1949 por inspiração e com a ajuda dos EUA) foi dirida pelo grupo de entreguistas da ''cruzada democrática'', que obedecendo ordens expressas do governo estadunidense, retirou o General Estilac Leal do Ministério da Guerra (um nome que honra o Brasil e os brasileiros). Com a queda do Estilac Leal a curriola do Eduardo Gomes teve ''mão livre'' pra desencadear a repressão dentro das Forças Armadas sob a orientação direta de oficiais estadunidenses. Transformaram quartéis em locais de tortura de dezenas de oficiais, sargentos, soldados e marinheiros ligados à luta anti-imperialista; oficiais estadunidenses participavam das escoltas que prendiam militares brasileiros!! ------ Alguém pode imaginar uma escolta integrada por militares brasileiros prendendo militares estadunidenses no solo dos EUA?? Basta esse fato pra dar a dimensão da falta de honra, patriotismo e vergonha dos entreguistas que executaram o golpe contra Jango ------ O capitão estadunidense Edgard Bundy, obedecendo ordens do presidente Truman, orientou diligências no Brasil ''dando assistencia'' ao cel. Amaury Kruel na Auditoria incumbida de julgar oficiais ''comunistas'' da FAB (comunistas eram aqueles que defendiam os interesses do Brasil e se opunham aos interesses dos EUA). Fonte: Moniz Bandeira.
    • Em 03/10/2013, Rubens escreveu:
É, o poder do dinheiro e a falta de dignidade de um comandante do exército brasileiro.
    • Em 04/10/2013, Eliseu Leão escreveu:
Parece até que foi ontem, 3 de outubro de 1953, a assinatura da Lei 2004 pelo Getúlio Vargas. 60 anos redondos! A Standard Oil do Nelson Rockfeller (que se dependesse de mim é espírito danado, padecendo nas quintas do inferno que nem mesmo a visão mais horripilante de um Hieronymus Bosch conseguiria representar), aliciara deus e todo mundo pra convencer os brasileiros que não existia nenhum petróleo por estas bandas. Quatro anos depois da assinatura da 2004, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados, comprovara que “O Estado de São Paulo”, “O Globo” e “Correio da Manhã” foram bem remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas - contra - a nacionalização do petróleo. --- Parece ontem porque a luta continua ainda hoje, como recorda Fernando Brito: . E Brito grifa: “liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas”… --- Quanta traição, quanta desonra na ação destes individuos civis e militares que não merecem a cidadania brasileira nem o nosso respeito; que juraram de servir ao Brasil... --- E já que estamos falamos da Lei 2004 pensem no dano que um general como o Eurico Gaspar Dutra, insignificante intelectualmente, moralmente e fisicamente, causou e ainda causa ao Brasil. Um cara tão desprezível que nem merece ser representado nos horrores das telas do Bosch.

·  Em 05/10/2013, Clovis escreveu:

Isso lembra o que foi comprovado neste ano, após a liberação de documentos até então secretos do governo britânico. A Espanha não entrou na Segunda Guerra (ao lado dos nazistas) porque os principais generais de Franco foram literalmente comprados pelo serviço secreto inglês.

·  Em 06/10/2013, Carlos escreveu:

Mas isso era lógico. E depois venderam o Brasil para os EUA.

·  Em 06/10/2013, Maués escreveu:

Não devemos confundir nem generalizar, a cúpula militar desfechou o golpe a soldo dos mandatários capitalistas, a base da oficialidade cumpriu ordens sem saber os reais objetivos da quartelada. Aos que estão enraivecidos com o corajoso depoimento do major Erimar, eu lembro que: contra fatos não há argumentos!

·  Em 06/10/2013, Fernando escreveu:

Fico realmente impressionado que depois passados tantos anos e com tantos livros publicados pela direita e também pela esquerda, que as pessoas parecem não ter qualquer capacidade de discernimento para entender, apesar das provas contundentes que estão aí que o golpe militar de 64 assim como os demais golpes ocorridos na américa latina forma todos uma iniciativa dos norte-americanos no sentido de "impedir ou evitar" que o comunismo ou o "MAL CUBANO" se espalhassem por aqui, mas que na verdade esta era uma iniciativa para que eles simplesmente ampliassem enormemente o seu poderio econômico e financeiro. Os norte-americanos sempre viveram a ainda vivem explorando a tudo e a todos, mas antes da segunda guerra era um país como outro qualquer, sem eira nem beira. Este é um assunto muito amplo, entretanto meu caríssimo Mario Augusto, mais uma vez parabéns pela matéria. A corrupção campeia em todo o poder. Talvez poderíamos citar num primeiro momento dois presidentes que sobreviveram ilesos a este ataque: Allende e agora nosso Jose "Pepe" Mujica, o resto é o resto!

·  Em 07/10/2013, Eliseu Leão escreveu:

Confirmando o leitor Fernando --- «Numa reunião de embaixadores da America Latina, em 1950, George Kennan disse que a maior preocupação dos EUA é com ''a proteção das nossas (isto é, da A.Latina) matérias-primas. Devemos combater a heresia que está se espalhando: a idéia de que um governo tem responsabilidade direta pelo bem do povo. Isso é comunismo, seja qual for o lado politico dos que a defendem. Essa gente pode formar grupos de auto-ajuda, baseados na Igreja, ou coisas desse tipo, mas se eles apoiarem tal heresia, são comunistas.» Pau neles. E explicou como agir: «... repressão policial dura do governo local. Isso não é vergonhoso, porque os comunistas são essencialmente traidores... É melhor ter um regime forte no poder do que um governo liberal, indulgente e infiltrado de hereges.» Os resultados dos estudos de uma Comissão de alto nível constatava, em 1955, que a ameaça principal da ideologia comunista era a recusa em exercer papel serviçal, isto é, o de complementar as economias industriais do Ocidente. (Noam Chomsky).

·  Em 13/10/2013, Nilson Lage escreveu:

Na década de 1950, em meu primeiro ano como repórter do Diário Carioca, o fotógrafo que fazia par comigo, Veneziano, registrou a confraternização desse general, então chefe de polícia no Rio de Janeiro, com famoso bicheiro num bar da Praça Mauá A foto não foi publicada, mas alguém faturou, tanto que o Veneziano ganhou uma gratificação.

·  Em 13/10/2013, diogo alvares fanck escreveu:

Fernando disse , EUA era uma país sem eira nem beira, quanto desconhecimento, nesta época os EUA já tinham mais automóveis que todo o resto do planeta juntos, idem para aviões, eletrodomésticos, já detinham mais da metade de todas novas descobertas nas mais diversas áreas (vide Nobeis), tanto que quando entraram na 2 guerra colocaram toda esta forca industrial voltada para dar suporte aos seus soldados e aliados no Front Europeu. Capacidade de abastecimento numa tal quantidade e qualidade que assombrou o mundo, a verdade é esta , o resto é desculpa de quem não conseguiu se desenvolver!!!!.

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