A tão aguardada Lista de Janot, que na sexta-feira passada dizimou o PP, em particular sua seção gaúcha, deveria nos ensinar algumas lições, que bem aprendidas nos levariam a uma situação política mais racional, tranquila e positiva para todos.
A primeira lição seria sobre a tão propalada superioridade dos gaúchos em relação ao resto dos brasileiros. A ideologia do gauchismo está em alta em nosso estado. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra! é um grito de guerra que é utilizado amiúde, em todas as esferas de nossa vida social. Mas esta ideologia do gauchismo, à parte o folclore, tinha um uso político claro aqui no Rio Grande. Variados setores e a grande imprensa justificavam que o PP gaúcho não apoiava nem dialogava com os governos Lula e Dilma porque era mais honesto que o PP nacional , que por sua venalidade se aproximava do PT. O PMDB gaúcho não apoiava nem dialogava com os governos Lula e Dilma porque era mais honesto que o PMDB nacional, que por sua venalidade se aproximava do PT. A Lista de Janot, (embora, registre-se, não inclua o PMDB gaúcho) desmonta esta tese. O PP gaúcho não apóia nem dialoga com Lula e Dilma não porque é mais honesto que o PP nacional, e sim porque é mais conservador e direitista. Esta é a razão, igualmente, porque o PMDB gaúcho não apóia nem dialoga com Lula e Dilma. Aqui no RS, a combinação de um PT forte com a tradição trabalhista , ainda levada pelo PDT e PTB , empurraram o PP e o PMDB para a direita. Ninguém é mais honesto ou desonesto porque nasce num determinado estado. Não há uma determinação geográfica na honestidade. É simples assim.
A segunda lição seria sobre a universalidade da corrupção. Uma manipulação deslavada de fatos, boatos e denúncias, praticada por agentes públicos e órgãos da imprensa, há bom tempo tenta criar a “verdade” de que a corrupção no Brasil nasceu com o PT e este é a fonte de todo o mal. A Lista de Janot é pródiga em grandes nomes da Oposição. Num ambiente de mínima racionalidade, seria evidente a conclusão que a eliminação ou pelo menos a expressiva redução da corrupção no país não passa pela cristianização de um partido e sim pelas mudanças necessárias na organização política brasileira que reduzam a influência do poder econômico nas eleições. Uma Reforma Política séria, como aquela proposta pela OAB e CNBB, por exemplo (a quem não se pode acusar de petismo…) seria a consequência desejada desta lista. Ou se reduz o custo das campanhas e se aumenta o controle dos partidos e da sociedade sobre os candidatos e parlamentares ou a corrupção de uns será apenas substituída pela de outros que os sucederem nos cargos.
A terceira lição seria sobre o perigo das generalizações e condenações antecipadas. Há meses meras denúncias oriundas de delações premiadas feitas por notórios criminosos ( que por óbvio se importam apenas com suas vidas…) são apresentadas como verdades absolutas. Agora, não dão origem a um único processo, mas tão somente à abertura de inquéritos, onde começarão as investigações. O próprio Ministro Teori Zavascki adverte sobre a necessidade de não se anteciparem julgados. Uma vez atingidos todos , seria de esperar que os princípios básicos de uma sociedade civilizada- a presunção de inocência, o direito de defesa, o resguardo da privacidade e do segredo quando legalmente definidos- passassem a predominar neste ambiente tão conturbado. Todos ganhariam com o cessar do uso político ilegal e abusivo de elementos contrabandeados de autos onde não têm comprovação alguma.
Mas é pouco provável que qualquer uma destas lições seja aprendida. A reação da grande imprensa local à Lista , em particular do grupo RBS, denota que não há mais o mínimo espaço para a racionalidade no debate político. Como a Lista não agradou ( não atingiu o PT , mas sim o PP, que é aliado) foi secundarizada e relativizada, os ataques ao PT recrudesceram (um colunista de Zero Hora na segunda-feira, dia 9, bateu o recorde mundial da baixaria) e parte da classe média é insuflada cotidianamente à beira da violência, gerando o primeiro Panelaço Vip da história, verificado no popular bairro da Bela Vista , onde em pleno Dia Internacional da Mulher , durante um pronunciamento público, a Presidenta legitimamente eleita era chamada de vaca e outras coisas mais chulas aos berros…
Fica claro que não está em disputa a moralização do país, nem o fim da corrupção. O que se disputa é a distribuição da riqueza e o orçamento do Estado. E nesta luta, a direita não quer mediações.
Antônio Escosteguy Castro é advogado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário