domingo, 14 de outubro de 2012

RS: líderes querem PT radical, renovado e de volta às origens

ALÉM DISSO, DEVEMOS DEPURAR!

O PT gaúcho, cuja principal figura é hoje o governador Tarso Genro, busca uma reformulação após a expressiva derrota na prefeitura de Porto Alegre. Foto: Neco Varella/Agência Free Lancer/Especial para Terra O PT gaúcho, cuja principal figura é hoje o governador Tarso Genro, busca uma reformulação após a expressiva derrota na prefeitura de Porto Alegre
Mauricio Tonetto
Direto de Porto Alegre
Eles fizeram história ao comandar Porto Alegre por 16 anos consecutivos (1989 a 2004) e ajudaram a consolidar o PT no País, deixando legados como o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial. Porém, após a retumbante derrota de Adão Villaverde na disputa pela prefeitura neste ano, obtendo apenas 76.548 votos (9,6%) - o pior índice da história da sigla no Estado -, os ex-prefeitos Raul Pont, João Verle, Tarso Genro e Olívio Dutra pregam a autocrítica e o retorno às raízes para recuperar o prestígio na cidade. Criticando os próprios correligionários que negam o mensalão, eles cobram mudanças e o fim da acomodação para voltar à vitrine.
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"A nossa linha sucessória, que vinha se dando ao natural, pela continuidade do projeto coletivo, passou a ser ideia de alguém, de pessoas e quadros, contaminando também a militância", avaliou Olívio Dutra, prefeito de 1989 a 1992 e governador do Estado de 1999 a 2002. Segundo ele, o PT precisa se repensar agora para não ser "engolido pela máquina pública e partidária".
"O PT não nasceu de gabinetes, mas hoje há quadros cuja profissão é pular de eleição em eleição para se manter na burocracia. Assim, começamos a ficar como a velha política tradicional. Na base do partido existe muita insatisfação com essa acomodação. Precisamos discutir os reflexos de estarmos sendo, de forma acelerada, engolidos pela máquina pública e partidária. Não podemos ser o partido da acomodação, mas da transformação", disse.
Entre as razões para o fracasso na capital gaúcha, as lideranças petistas apontam inércia, desunião com a esquerda, disputa interna por espaços, falta de novas lideranças afirmadas, esgotamento da agenda e distanciamento das raízes populares e de atuação social. De acordo com eles, o prefeito José Fortunati (PDT) - filiado ao PT de 1980 a 2002 - se aproveitou disso para fazer 517.969 votos (65,22%), elegendo-se tranquilamente no primeiro turno.
"Esgotamos a agenda. As três grandes novidades implantadas aqui - participação popular, inversão das prioridades e cidade global - foram assimiladas e defendidas por outros partidos. Como o PT não inovou e não renovou, a tendência do eleitorado é votar num candidato que está mais próximo à realidade política, normalmente o próprio prefeito. O PT tem que refundar a sua agenda e reestruturar sua visão de cidade", opinou o governador Tarso Genro, que foi prefeito de 1993 a 1997 e de 2001 a 2002.
Críticas ao mensalão
Ao contrário de figuras marcantes do PT nacional, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que negam a existência do mensalão, os ex-prefeitos gaúchos têm posição firme e se posicionam publicamente contra o esquema criminoso de compra de apoio político, julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo eles, a campanha de Porto Alegre foi prejudicada pelo escândalo. Entre os condenados pelo STF estão o ex-presidente nacional do PT José Genoíno e o ex-ministro José Dirceu, principal apoiador de Lula no primeiro mandato.

"Uma das nossas características era a ética e o combate à corrupção. Os fatos recentes levaram todos a dizer que o PT é igual a todos. Isso afetou bastante o prestígio e o apoio que tínhamos aqui, influenciou bastante", entende João Verle, prefeito de 2002 a 2004.
"O Lula tem dito 'o povo não se importa' e eu acho isso um erro. Depois de umas pessoas importantes terem negado a existência do mensalão, o PT no Sul teve uma postura diferente. Porém, não podemos ficar nos insurgindo contra o governo federal e também sofremos com isso. O povo, que olhava o PT com simpatia, passou a ter desconfiança. Isso é um patrimônio que precisa ser resgatado", corroborou Olívio Dutra.
Inércia e radicalização
Prefeito eleito em 1996, Raul Pont, atualmente deputado estadual e presidente da sigla no Rio Grande do Sul, também sinaliza como problemas deste pleito a inércia e a falta de consenso em torno de um nome que atraísse um grande número de votos. Ele retirou a sua pré-candidatura no final de 2011 para evitar um racha.

"Nós insistimos que, pela dificuldade que teríamos na disputa, era importante um nome de muita densidade eleitoral. Mas o partido não construiu esse consenso e agora terá que se debruçar sobre isso. A opção dos eleitores por Fortunati foi dada por uma inércia e pelo desconhecimento da nossa candidatura, pagamos um alto preço", afirmou.
Para Olívio Dutra, "o PT está longe de ter esgotado o seu projeto", mas precisa voltar a se radicalizar: "Nós fomos reduzindo a nossa radicalidade e nossas bandeiras foram sumindo. Defendemos coisas permanentes, como radicalizar a democracia e ir além do bom discurso. Democracia deve ser vivida no plano econômico, social, político e cultural. Temos de questionar as coisas pela raiz."
A votação média da legenda nas últimas eleições municipais foi de 331.578 votos, quatro vezes maior que o desempenho deste ano. "Acho que houve um certo pecado da campanha em explicar qual era a nossa crítica e porque somos oposição ao governo. Não conseguimos ser mais esclarecedores", analisou Raul Pont.
Em 2008, o PT amargou a derrota de Maria do Rosário no segundo turno, com 327.799 votos, contra 470.696 de José Fogaça (PMDB), que protagonizou a primeira reeleição em Porto Alegre, com Fortunati como seu vice. Em 2004, no PPS, ele havia vencido Raul Pont no segundo turno, com 53,32% dos votos válidos, contra 46,68% do petista.

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