Segundo O Globo, Lula estragou o Brasil. Você concorda?
"Com o tempo uma imprensa cínica e corrupta formará um público tão vil quanto ela" - JosephPulitzer
Tem
sentido Lula dizer que certa imprensa não larga do seu pé. E o sistema
Rede Globo vestiu muito bem a carapuça ao tentar, de todas as formas,
que as massas ganhem as ruas ou que o "povo entenda" que a corrupção no
Brasil surgiu no governo lulopetista.
O
Globo caiu no ridículo ao afirmar que o Congresso da UNE foi um evento
chapa-branca e que Lula capturou os movimentos sociais desse país.
Que a “raiz
profunda” da pequena disposição contestatória da população teria
nascido com “lulopetismo”, e antes que Lula chegasse ao poder, o
problema inexistisse.
E
que na visão do O Globo, até 2002, existia no Brasil uma sociedade com
ampla participação popular, onde o povo fiscalizava os políticos e a
corrupção passava despercebida, no entanto com a chegada do lulopetismo,
Lula estragou tudo.
Pois bem, vale conferir na íntegra o texto o Brasil de Juan Arias, por Marcos Coimbra disponível no blog Luis Nassif , porque para o Globo Lula estragou o Brasil. Você concorda?
Por Marco St.
O Brasil Visto de Fora
Marcos Coimbra
Passamos
um pedaço da semana ocupados com um assunto menos importante que
parece. Foi suscitado pelo correspondente do jornal espanhol El País, em
artigo em que discorria sobre sua dificuldade de entender por que os
brasileiros não ficam “indignados” com o Brasil. Em especial, por que
não saem às ruas para protestar contra a falta de ética e a corrupção.
O
texto foi republicado por O Globo, três semanas depois de ter saído na
Espanha. Parece que a direção do jornal carioca ficou indignada com a
falta de repercussão do texto original. Resolveu traduzi-lo e mandou
fazer reportagem de capa a respeito do tema.
O
autor, Juan Arias, deve ter ficado satisfeito com a deferência de seus
colegas. Voltou à discussão na terça feira, dessa feita em matéria
intitulada “A imprensa se converte no paladino contra a corrupção no
Brasil”. Titulo tão surpreendente para quem conhece as corporações da
mídia brasileira que só pode ser explicado como retribuição ao destaque
que recebera.
Suas
ideias foram encaixadas no modelo de interpretação de nossa realidade
que é típico das redações dos grandes jornais. Nele, tudo é explicado a
partir de uma premissa: os males do Brasil são culpa de Lula e do PT.
É
fácil interpretar nossa realidade política e social sabendo, de
antemão, a resposta a todas as perguntas. Qualquer coisa pode ser assim
compreendida, incluindo a “apatia da sociedade” que não se indigna e não
reage contra tudo de errado que existe.
Como
afirmou o editorial de O Globo: “O fenômeno da inapetência política
diante do assalto aos cofres abastecidos pelos pesados impostos pagos
pelo contribuinte tem múltiplas raízes. A mais profunda deriva da
bem-sucedida execução de um projeto de cooptação com dinheiro
público...(através de organizações) convertidas em correias de
transmissão do lulopetismo”.
O
engraçado no raciocínio é que a “raiz profunda” da pequena disposição
contestatória da população teria nascido outro dia. Se foi obra do
“lulopetismo”, é de imaginar que, antes que Lula chegasse ao poder, o
problema inexistisse.
Na
visão singela do editorialista, talvez fossemos, até 2002, uma
sociedade de ampla participação popular, onde o povo vigiava os
políticos e só tínhamos a corrupção que passava despercebida. Foi quando
veio Lula e estragou tudo.
Não
parece que Juan Arias concordaria com uma tese tão superficial. Seu
texto não atribuía ao “lulopetismo” a responsabilidade pela situação que
o deixava perplexo. O que discutia eram os traços gerais de nosso
sistema político, em nada circunscritos a um partido ou governante. A
“indignação” que cobrava não seria do povo contra o governo federal, mas
também o Congresso, a política nos estados e nos municípios.
O
texto tratava Dilma de maneira peculiar. Para ele, “(...) curiosamente,
a mais irritada com o ataque dos políticos aos cofres públicos parece
ser a primeira presidente mulher”. Ou seja, apesar da lamentada ausência
do “povo nas ruas”, ela seria “indignada” o suficiente para não aceitar
a corrupção e estaria dando mostras disso no modo como enfrentou os
casos Palocci e Alfredo Nascimento.
Nem
se precisa dizer que essa avaliação esteve totalmente ausente nas
repercussões do texto no Globo. Admiti-la implicaria abrir mão do modelo
em que o “lulopetismo” é o grande culpado.
O
assunto acabou fazendo um percurso curioso. Primeiro, um correspondente
estrangeiro escreveu um artigo com o olhar característico de quem vê de
fora nossos problemas. Daí, achando que era instrumental, um jornal
local o importou, adaptando-o à sua visão.
Foi
buscar lá fora argumentos que referendavam suas ideias e lhes davam
certo ar cosmopolita, mesmo algumas que o texto inicial não subscrevia.
Terminou como se o El País condenasse o “lulopetismo”.
Não era isso, mas quem se importa? Em redações como a desse jornal, a única coisa relevante é combater.
Por Beto Vasquez
Primeiro,
importante lembrar que Juan Arias era um velho dinossauro inconveniente
e, pra poderem se livrar dele, lhe "promoveram" com a sucursal
brasileira do jornal El Pais (se fosse político, diríamos que se trata
de uma embaixada).
No
mais, o "neutro" Arias, foi o mesmo que ano passado, 6 meses antes da
eleição escreveu um artigo dizendo que o Serra, e não Dilma, seria o
verdadeiro candidato de Lula...sei, sei, sei...visão imparcial e justa.
Neutralidade e ascepcia típicas de um analista internacional que vë com
"distanciamento" os problemas tupiniquins...conta outra. É tudo farinha
do mesmo saco. Só faltava agora o Coimbra tentar aliviar a barra do
Arias como se ele fosse o bom e ingenuo gringo que apenas relata a
"verdadeira realidade" brasileira.
Después de Lula ¿qué?
O
presidente brasileiro renunciou a disputar um terceiro mandato que
poderia ter ganhado facilmente. Seus possiveis sucessores, a
ex-guerrilheira Dilma Rousseff e o social-democrata José Serra, seguirão
seu caminho
Juan Arias 15/02/2010
A
pergunta: depois de Lula, o que?, ou seja, como será o Brasil sem Lula,
não é retórica. É uma pergunta que começa a ser feita não apenas por
analistas políticos, mas pelo homem comum. Uma coisa é certa: vai haver,
historicamente, um antes e um depois de Lula, o ex-torneiro mecânico
que tomou o controle do país faz oito anos e conseguiu colocar o Brasil
entre as potências emergentes do mundo junto com a Índia e a China.
Lula
deixa um país com 20 milhões a menos de miseráveis que ascenderam à
categoria de cidadãos e entraram no mercado de consumo. Hoje, o Brasil,
com seus quase 200 milhões de habitantes, pretende ter um assento no
Conselho de Segurança das Nações Unidas. Lula tornou visível o Brasil e
suas possibilidades econômicas e culturais no cenário mundial.
Não
se deixou levar pelo sonho de tentar uma terceira vitória eleitoral,
modificando a Constituição, alegando, em claro espírito democrático, que
"melhor que a continuidade do poder é a alternância, para a saúde da
democracia". Se pode afirmar sem dúvida que se trata de um gesto de
generosidade político levando em conta que, se tivesse se apresentado
para um terceiro mandato, teria ganho plebiscitariamente.
O
presidente ex-sindicalista conseguiu algo que, quando chegou ao poder
em 2003, parecia impossível: descolar-se da esquerda de seu partido, o
Partido dos Trabalhadores (PT) e por em marcha, durante seus dois
mandatos, uma política econômica neoliberal que deu segurança e outras
garantias aos investidores estrangeiros. Às vezes -- em uma espécie de
quadratura do círculo -- tem sabido conjugar essa política, aplaudida
pelos banqueiros, com fortes e vistosas políticas sociais, com as quais
conquistou milhões de pobres, diante dos quais se apresentou como um bom
pai, ainda que a oposição classifique isso de assistencialismo. "Hoje
os pobres tem mais comida na mesa e podemos ter um cartão de crédito",
me dizia um jardineiro, orgulhoso de ter podido abrir uma conta no banco
com 10 reais (4 euros).
Lula
sai de cena, mas sabe que voltará, talvez já em 2014. Mas no momento
sai. E a partir de primeiro de janeiro próximo o Brasil será um Brasil
sem Lula. O que vai acontecer? Nada. Seguirá sendo um país com
instituições democráticas consolidadas; um país que não só conseguiu
sair, sem quebrar, da crise financeira mundial, mas que já está
crescendo; um país sem possibilidade de golpes de qualquer tipo e,
apesar de alguns impulsos populistas em alguns momentos -- pela
influência sobretudo do chavismo -- que não se deixou arrastar pelo
populismo em voga na América Latina.
O
Brasil é um país que vai continuar sendo respeitado e admirado no
mundo, inclusive sem o Lula, porque foi ele quem teve coragem de
respeitar as bases democráticas construídas pelos oito anos do governo
antecessor, o do social-democrata Fernando Henrique Cardoso.
Faltam
quatro meses para uma contenda presidencial que vai ser dura e
disputada, mas democrática. Se não houver surpresas de última hora,
nenhum analista político apostaria em um cenário diferente do que está
se formando, com duas únicas candidaturas capazes de ganhar as eleições
de outubro: a da ministra e ex-guerrilheira, Dilma Rouseff, de origem
húngara, que é a candidata preferida de Lula, uma espécie de sombra. Se
ela vencer as eleições, será na realidade um terceiro mandato de Lula e
asseguraria a continuidade de um certo lulismo, a política pessoal que
Lula levou a cabo, afastando-se inclusive das diretrizes de seu partido.
Mas
Dilma, ao mesmo tempo, não é Lula. É quase um anti-Lula, porque mais
que uma iluminada ou uma improvisadora como ele, é uma gestora, que
carece do carisma de seu chefe, que nunca disputou anteriormente
eleições, nem para prefeita, e que chegou tarde ao Partido dos
Trabalhadores, que oficialmente vai escolhê-la como candidata nas
próximas semanas, ainda que não fosse Dilma a sua escolha preferida. Foi
sempre e somente de Lula, que a escolheu por ser mulher, por ser dura e
forte de caráter. O mandatário pensa que se Dilma foi capaz de
sobreviver à tortura, poderá ser firme na direção do país. Além disso,
vai seguir mais a direção de Lula que a do seu partido [o PT].
Dilma
é mais de esquerda que Lula, que na verdade nunca foi de esquerda.
Dilma militou nos movimentos revolucionários de extrema esquerda que
lutavam em favor da ditadura do proletariado durante a ditadura militar.
Foi encarcerada e torturada pelos militares e hoje daquele passado
resta apenas um forte sentido social. Sua paixão é a gestão do poder.
Se
ganhar Dilma, dizem os especialistas, terá ganhado Lula, sua força de
convicção. Se perder, seria a perda dela, que não teria sabido
capitalizar o apoio de Lula que, faz um ano, a leva pelo braço por todas
as partes, até a uma audiência, no ano passado, com o papa Bento 16.
Hoje,
as pesquisas dão Dilma como perdedora ante o social-democrata e
governador de São Paulo, José Serra, ainda que a cada mês ela vá
aumentando seu índice de aprovação, que está em torno de 30% diante de
40% de seu adversário. Dilma cresce à medida que os pobres descobrem que
ela é a candidata preferida de Lula.
Serra
representaria a alternância normal do poder, interrompendo de alguma
forma a continuidade do PT no poder e do lulismo. Como Dilma, o
governador de São Paulo, um fã da política que foi parlamentar e duas
vezes ministro, além de prefeito da cidade de São Paulo e hoje
governador do dito estado com altíssimos índices de aprovação, é também
mais um gestor que um carismático. É uma pessoa séria, ainda que
afetuosa, nada populista, que já disputou em 2002 as eleições
presidenciais com Lula, que levou ao segundo turno e de quem sempre foi
amigo pessoal. Sua campanha não seria "contra Lula", mas "depois de
Lula". Se situa à esquerda de Lula e acentuaria algumas políticas
deixadas pelo governo atual.
Com
Serra, o Brasil seria um país sem Lula, mas ainda com Lula, no sentido
de que o governador paulista não nega nenhuma das conquistas sociais de
seu governo, nem o brilho que o ex-metalúrgico deu ao Brasil no mundo.
Serra lutou nos movimentos estudantis durante o tempo da ditadura e teve
que exilar-se por vários anos.
Lula
deseja que a campanha seja uma espécie de plebiscito entre o que fez
pelo país e o que fez seu antecessor por oito anos, o que já conseguiu.
Seria como perguntar às pessoas se querem seguir com as conquistas
conseguidas por ele ou voltar ao passado. Sem dúvida é uma falso dilema
que Serra, se aceitar ser candidato, se encarregará de desmascarar.
Para
Serra, seu governo não seria uma fotocópia do passado social-democrata
de Cardoso, mas uma página nova. Seu programa, que estaria sendo
preparado por uma equipe de sábios, teria como foco "aperfeiçoar" o que
Lula começou e não quis ou não pode levar a cabo, e em melhorar aqueles
campos nos quais os cidadãos se sentem mais frustrados e ainda
insatisfeitos, como a educação, a saúde, a segurança cidadã, a reforma
política, a reforma fiscal, a luta contra a corrupção, sem contar a
ainda grande injustiça do Brasil: a tremenda disparidade entre ricos e
pobres, entre os brancos e os de cor, entre escolarizados e analfabetos.
Sem
Lula agora e quem sabe com Lula amanhã de novo, o Brasil é um país que
escolheu o caminho certo, que o levará a consolidar o milagre de seu
desenvolvimento. As diferenças do possível sucessor de Lula, que não
será um líder carismático, não vão afastar o Brasil de seu objetivo de
ser levado em conta no cenário mundial, de sua aposta na democracia e de
uma certa e indiscutível liderança na América Latina e, quem sabe,
algum dias, mais além
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